RODRIGO REY ROSA – ficcionista

Rodrigo de Freitas Faqueri

Nascido na Guatemala em 04 de novembro de 1958, Rey Rosa é um dos novos nomes da literatura hispano-americana contemporânea. Depois de abandonar a carreira de Medicina em seu país, residiu em Nova York e em Tanger. Em sua primeira viagem ao Marrocos conheceu o escritor Paul Bowles, que foi o primeiro tradutor de seus livros para o inglês. Já escreveu romances, livros de relatos e contos, entre os quais se encontram El cuchillo del mendigo (1985), El agua quieta (1989), Cárcel de árboles (1991), El salvador de buques (1992), Lo que soñó Sebastián (1994), Que me maten si… (1996), El cojo bueno (1996), Ningún lugar sagrado (1998), La orilla africana (1999), Piedras encantadas (2001), El tren a Travancore (2002), Otro zoo (2005), Caballeriza (2006), Siempre juntos y otros cuentos (2008), El material humano (2009), Severina (2011), Los Sordos (2012), La cola del dragón (2014) e Fábula Asiática (2017). Suas obras, que já foram traduzidas a vários idiomas, representam a literatura centro-americana contemporânea.

Rey Rosa é um autor que traz uma perspectiva renovadora para a literatura de seu país e proporciona uma inovação no fazer literário no continente. Para Cano (2012), em Cárcel de árboles, por exemplo, Rey Rosa faz uma exploração lúcida de uma modalidade escritural que lhe proporciona uma abertura para o desenvolvimento de questionamentos no âmbito ético e também estético. O escritor guatemalteco busca uma detalhada profundidade autorreflexiva sobre diferentes temáticas e questionamentos presentes em suas obras:

En esta novela, Rey Rosa ejecuta una minuciosa cavilación autorreflexiva sobre los diversos rasgos que permiten situar una obra en el campo de la CF, a la vez que establece un diálogo intertextual con tres renombrados exponentes de esta tradición escritural en el continente hispanoamericano: Rubén Darío, Jorge Luis Borges y Adolfo Bioy Casares. (CANO, 2012, p. 2)

Neste romance, Rey Rosa executa uma minuciosa cisma autorreflexiva sobre os diversos traços que permitem situar uma obra no campo da ficção científica, uma vez que estabelece um diálogo intertextual com três renomados exponentes desta tradição escritural no continente hispano-americano: Rubén Darío, Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares. (CANO, 2012, p. 2, tradução minha)

Ao relacionar a escrita de Rey Rosa com a destes três tradicionais escritores hispano-americanos, Cano busca evidenciar que a escrita do guatemalteco rompe com as estruturas anteriores e busca seu lugar como representante exponencial de sua geração contemporânea, trazendo uma nova configuração para a literatura atual guatemalteca ou centro-americana assim como tais escritores buscaram fazer em suas respectivas gerações.

Em suas narrativas, além do enigma presente Rey Rosa trabalha a temática da violência que transcende a realidade e se magnetiza na ficção focada na circunstância da Guatemala em pós-guerra e o absurdo narrado em uma prosa de grau zero que traduz a desesperança filosófica em seus contos e também em seus romances (GUTIÉRREZ, 2008).

Como escritor contemporâneo da literatura hispano-americana, foi vencedor do Premio Nacional de Literatura de Guatemala Miguel Ángel Asturias em 2004, do Premio Siglo XXI, oferecido pela Asociación China de Literatura Extranjera, outorgado ao melhor romance estrangeiro do ano em 2013, com o romance Los Sordos (2012) e, recentemente, do Premio Iberoamericano de Letras José Donoso da Universidade de Talca (Chile), em 2015. Cabe situar, neste contexto, que Rey Rosa possui uma produção literária das mais notáveis no panorama atual no âmbito literário, destacando-se pela sua originalidade, sobriedade e aparente transparência.

Em El material humano (2009), obra de maior destaque entre seus romances, além da violência claramente exposta, a postura de Rey Rosa ao construir seu narrador propõe a eliminação da fronteira entre a realidade e a ficção e habilita-se, então, a possibilidade de esses dois universos se misturarem a ponto de não se poder distingui-los claramente por conta do absurdo existente no cotidiano do narrador-protagonista e de suas experiências. As imagens que são construídas na narrativa se contrapõem entre a calma e a agressividade, quase sempre a primeira sendo transgredida pela agressividade direta ou indireta dos fatos ocorridos que refletem a violência pertencente ao texto.

Além disso, a violência também permite a construção do insólito na narrativa a partir dos sonhos tidos pelo protagonista e pelo absurdo narrado, por exemplo, nos motivos de fichamento de guatemaltecos nos arquivos policiais ou dos acontecimentos narrados em determinados contos como La entrega, El camino se dobla, El monasterio, La señal, La llave perdida, La razón, El agua quieta, todos compilados no 1986. Cuentos completos (2014).

Nestas narrativas apontadas, a perspectiva fantástica se apresenta e se faz presente para proporcionar uma reflexão sobre a pluralidade de sentidos ocasionada pelas construções imagéticas do insólito não só com suas temáticas, mas também em suas estruturas narrativas complexas. Com o desenvolvimento das tramas o real e o ficcional mesclam-se nas ações e indagações dos protagonistas fazendo com que a aproximação com o real seja posta em xeque pelo absurdo que se pode encontrar no cotidiano descrito nos enredos.

A narrativa contística de Rey Rosa em muitas situações se manifesta em um ritmo inesperado e em uma concisão que guiam o leitor na direção que o narrador quer e pretende dirigir a história (BALUTET, 2000). A nível discursivo, alguns de seus contos têm a presença de certos elementos retóricos recorrentes nas narrativas fantásticas como os adjetivos que caracterizam este gênero e codificam seu sistema. Outros apresentam um caráter menos declarado e mais subjetivo trazendo a ideia da dupla interpretação para o verbete utilizado dentro do texto.

Seu último romance, intitulado El País de Toó (2019), o autor apresenta um território onde a organização comunal maia e as leis do governo atual regem simultaneamente a população local. Assim, dois mundos se entrecruzam e se expandem por várias vias no romance em questão.

REFERÊNCIAS

BALUTET, Nicolas. Rodrigo Rey Rosa, escritor fantástico. Artigo, 2000. Disponível em: http://www.manuel123.8m.com/solotxt/000325-rodrigo-rey-rosa-escritorfantastico.htm Acesso em 14 ago. 2019.
CANO, Luis. Cárcel de Árboles, de Rodrigo Rey Rosa, y la Meta-Ciencia-Ficción. Revista Iberoamericana, 238-239: 389-406, 2012.
GUTIÉRREZ, Emiliano Coello. La narrativa breve de Rodrigo Rey Rosa: un vuelco a la racionalidad. Revista Pensamiento Actual, v. 8, p. 54-59, 2008.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

FAQUERI, Rodrigo de Freitas. A estética da violência na literatura centro-americana contemporânea: um estudo sobre as narrativas do guatemalteco Rodrigo Rey Rosa. (Tese de doutorado). Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, p. 232, 2018.