JOSÉ EDUARDO AGUALUSA – ficcionista

Luana Barossi

José Eduardo Agualusa nasceu na cidade de Huambo, em Angola, em 1960. Tem formação acadêmica em agronomia e silvicultura. Já trabalhou como jornalista. Embora seja um autor da “nova geração” de autores angolanos, já publicou 13 romances, além de inúmeras coletâneas de contos e de poesia.

O romance “O Vendedor de Passados”, ganhou o Independent Foreign Fiction Prize, em 2007. A obra, publicada pela primeira vez em 2004, conta a história de Félix Ventura, que ganha a vida como “genealogista”, ou, em outras palavras, oferece a quem precisa “um passado melhor”. O narrador da história é uma osga, nomeada por Félix de Eulálio. Aqui vemos uma relação com a própria produção da linguagem, uma vez que o verbete eulalia é comumente definido como a “dicção fácil”. A presença de uma osga narradora é uma espécie de rompimento com a noção de que a linguagem seria o elemento de diferenciação entre os humanos e os outros animais. Félix propõe que seu trabalho de criar novos passados é “uma forma avançada de literatura. Também eu crio enredos, invento personagens, mas em vez de os deixar presos dentro de um livro dou-lhes vida, atiro-os para a realidade” (AGUALUSA, 2015, p. 75). Por vezes, o personagem passa a acreditar em sua criação, sugerindo um questionamento da realidade como concebida pelo senso comum: “Eu, sempre que ouço falar em algo realmente impossível, acredito logo. José Buchmann é impossível, não achas?, achamos os dois, então deve ser autêntico (AGUALUSA, 2015, p. 126).

Já o romance “Teoria Geral do Esquecimento” foi finalista do Man Booker International, em 2016, e vencedor do International Dublin Literary Award, em 2017. A obra, publicada inicialmente em 2012, tem como momento histórico um período que se estende das guerras de independência à contemporaneidade (da produção da obra). A personagem principal, Ludovica, vive por muitos anos trancada em um apartamento em Luanda, tendo acesso apenas a uma biblioteca gigantesca. Sua realidade é construída por meio da escrita e das narrativas que lê na biblioteca.

Percebe-se, nas obras do autor, o insólito como recurso discursivo para questionar as próprias bases do que é tido como real pela concepção cartesiana do mundo: “A verdade é uma superstição” (AGUALUSA, 2015, p .75). Nesse sentido, há, em seus textos, uma ressonância das obras do argentino Jorge Luis Borges (que inclusive é aludido em alguns de seus textos, a exemplo do personagem J.B., de “O vendedor de passados”). Além dessa dimensão do insólito, o autor também recorre constantemente ao universo onírico. Em entrevista a Carlos Marcelo (2017) a propósito do lançamento de “A sociedade dos sonhadores involuntários”, Agualusa afirma que a literatura talvez seja uma sociedade “de sonhadores voluntários, ou seja, de pessoas que se treinam para sonhar. Profissionais do sonho, digamos assim. É isso que somos”. Esses sonhos, no entanto, podem ter relação aos “sonos diurnos”, na acepção de Ernst Bloch, uma vez que a obra de Agualusa tem constantemente um traço estilístico satírico, ao colocar em pauta questões políticas muito presentes na contemporaneidade.

Compõem a extensa obra do autor: A conjura (romance, 1989), vencedor do Prémio Revelação Sonangol; D. Nicolau Água-Rosada e outras estórias verdadeiras e inverossímeis (contos, 1990); O coração dos Bosques (poemas, 1991); A feira dos assombrados (novela, 1992); Estação das Chuvas (romance, 1996); Nação Crioula (romance, 1997); Fronteiras Perdidas, contos para viajar (contos, 1999); Um Estranho em Goa (romance, 2000); Estranhões e Bizarrocos (literatura infantil, 2000); A Substância do Amor e outras crónicas (crônicas, 2000); O Homem que Parecia um Domingo (contos, 2002); O Ano em que Zumbi Tomou o Rio (romance, 2001); Catálogo de Sombras (contos, 2003); O Vendedor de Passados (romance, 2004); Manual Prático de Levitação (contos, 2005); Passageiros em Trânsito (contos, 2006); As Mulheres do Meu Pai (romance, 2007); Barroco Tropical (romance, 2009); Milagrário Pessoal (romance, 2010); A educação sentimental dos pássaros (contos, 2011); Teoria geral do Esquecimento (romance, 2012); A vida no céu (romance para jovens, 2013); A Rainha Ginga E de como os africanos inventaram o mundo (romance, 2014); O Livro dos Camaleões (contos, 2015); A Sociedade dos Sonhadores Involuntários (romance, 2017); O Paraíso e Outros Infernos (crónicas, 2018); O terrorista elegante e outros contos (2019).

REFERÊNCIAS

AGUALUSA, José Eduardo. O vendedor de passados. 3.ed. Rio de Janeiro, Gryphus, 2015.
BLOCH, Ernst. O Princípio Esperança, 1. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005.
MARCELO, Carlos. José Eduardo Agualusa lança ‘A sociedade dos sonhadores involuntários’. In: Portal Uai. 2017. Disponível em: https://www.uai.com.br/app/noticia/artes-e-livros/2017/07/24/noticias-artes-e-livros,210230/jose-eduardo-agualusa-lanca-a-sociedade-dos-sonhadores-involuntarios.shtml. Acesso em 09 set. 2019.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

AGUALUSA, José Eduardo. Obras. (Website do autor). Disponível em: https://www.agualusa.pt/cat.php?catid=28. Acesso em 09 set. 2019.
AGUALUSA, José Eduardo. D. Nicolau Água-Rosada e outras estórias verdadeiras e inverossímeis. Lisboa: Edições Vega, 1990.
AGUALUSA, José Eduardo. O coração dos Bosques. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1991.
AGUALUSA, José Eduardo. A feira dos assombrados. Lisboa: Edições Vega, 1992.
AGUALUSA, José Eduardo. Estação das Chuvas. Lisboa: Dom Quixote, 1996.
AGUALUSA, José Eduardo. Fronteiras Perdidas, contos para viajar. Lisboa: Dom Quixote, 1999.
AGUALUSA, José Eduardo. Nação Crioula. Braga: Circulo de Leitores, 2000.
AGUALUSA, José Eduardo. Um estranho em Goa. Lisboa: Cotovia, 2000.
AGUALUSA, José Eduardo. Estranhões e Bizarrocos. Lisboa: Dom Quixote, 2000.
AGUALUSA, José Eduardo. A Substância do Amor e Outras Crónicas. Lisboa: Dom Quixote, 2000.
AGUALUSA, José Eduardo. O Homem que Parecia um Domingo. Lisboa: Dom Quixote, 2002.
AGUALUSA, José Eduardo. O Ano em que Zumbi Tomou o Rio. Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.
AGUALUSA, José Eduardo. Catálogo de Sombras. Lisboa: Dom Quixote, 2003.
AGUALUSA, José Eduardo. Manual Prático de Levitação. Rio de Janeiro, Gryphus, 2005.
AGUALUSA, José Eduardo. Passageiros em Trânsito. Lisboa: Dom Quixote, 2006.
AGUALUSA, José Eduardo. As Mulheres do Meu Pai. Rio de Janeiro: Língua Geral. 2007.
AGUALUSA, José Eduardo. A conjura. Rio de Janeiro: Gryphus, 2009.
AGUALUSA, José Eduardo. Barroco Tropical. Lisboa: Dom Quixote, 2009.
AGUALUSA, José Eduardo. Milagrário Pessoal. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2010.
AGUALUSA, José Eduardo. A educação sentimental dos pássaros. Lisboa: Dom Quixote, 2011.
AGUALUSA, José Eduardo. Teoria geral do Esquecimento. Rio de Janeiro: Foz, 2012.
AGUALUSA, José Eduardo. A vida no céu. Lisboa. Quetzal, 2013
AGUALUSA, José Eduardo. A Rainha Ginga E de como os africanos inventaram o mundo. Lisboa: Quetzal, 2014.
AGUALUSA, José Eduardo. O Livro dos Camaleões. Lisboa: Quetzal, 2015.
AGUALUSA, José Eduardo. O vendedor de passados. 3.ed. Rio de Janeiro, Gryphus, 2015.
AGUALUSA, José Eduardo. A Sociedade dos Sonhadores Involuntários. São Paulo: Tusquets, 2017.
AGUALUSA, José Eduardo. O Paraíso e Outros Infernos. Lisboa: Quetzal, 2018.
AGUALUSA, José Eduardo. O terrorista elegante e outros contos. São Paulo: Tusquets, 2019.
BAROSSI, Luana. A Zoo(po)ética de Agualusa. Ilha Desterro [online]. UFSC, v. 70, n. 2, p. 83-91, 2017.