Daniel Augusto Pereira da Silva
Nascido no Maranhão, em 21 de fevereiro de 1864, Henrique Maximiano Coelho Neto foi um dos escritores mais prolíficos, influentes e populares da literatura brasileira do final do século XIX e das primeiras décadas do XX. Sua obra conta com mais de cento e vinte livros, entre romances, novelas, volumes de contos, recolhas de poemas, peças de teatro, conferências, textos licenciosos e outros gêneros. Além de ter sido um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira de número 2, tornou-se presidente da instituição em 1926. Traduzido para o inglês e para o francês, ainda em vida, foi também o primeiro brasileiro a ser candidato ao Prêmio Nobel de Literatura, em 1933. Embora tenha sido amplamente lido e comercializado, com cerca de 600 mil volumes editados na época, seu trabalho foi combatido pelo grupo da Semana de Arte Moderna de 1922 e caiu em desgraça para grande parte da historiografia literária nacional.
Marcada pelo preciosismo estilístico e pela écriture artiste, sua produção ficcional apresenta uma variedade de poéticas e de modos discursivos, tais como o gótico, o fantástico, o grotesco, o horror, a ficção científica, o parnasianismo, o naturalismo e a decadência literária. Em alguns de seus primeiros romances, essas tendências estão, em maior ou em menor grau, combinadas a um destacado orientalismo, como em O Rei Fantasma (1895), e a uma estrutura de narrativa de aventuras, como em O Rajá de Pendjab (1898), ambos com enredos tão exóticos quanto violentos. Parte dessa diversidade artística pode ser percebida, ainda, no romance A Esfinge (1908), considerado por Alexander Meireles da Silva como “uma das obras fundadoras da ficção científica brasileira na sua vertente cyberpunk”, em que uma personagem se torna transexual a partir de um experimento simultaneamente científico e místico. A aproximação do insólito ao religioso é, aliás, frequente em sua obra, sendo possível identificar preceitos do espiritismo em algumas de suas descrições de aparições sobrenaturais.
A produção contística do autor revela, igualmente, algumas dos temas e dos topoi insólitos exploradas pelo autor. Em Contos da vida e da morte (1927), por exemplo, há textos sobre casos de duplo, de assombrações, de casas mal-assombradas, e de médicos que extrapolam os limites éticos das experiências científicas. Nessa mesma obra, expõe-se também uma outra visão, mais negativa, da Belle Époque brasileira, a partir da tematização dos efeitos nocivos de doenças, como a febre amarela e a lepra, que assolavam o país. Nas narrativas, as moléstias degradam as personagens progressivamente, tanto em seus físicos quanto em seus estados mentais, até levá-las à morte.
Diversos elementos insólitos também surgem em sua obra de cunho regionalista. As novelas de Sertão (1896) representam essa tendência de forma exemplar. Nelas, Coelho Neto retrata o ambiente sertanejo como verdadeiro locus horribilis, repleto de taperas e de outras construções em ruínas. Nesses espaços degradados, as personagens passam por diversas experiências sobrenaturais, são assombradas por fantasmas, ouvem causos assustadores, temem superstições indígenas e africanas, cometem crimes violentos e ainda entram em contato com bruxas, feiticeiros e mandingueiros. Como nas narrativas urbanas, as doenças e as transgressões sexuais são sistematicamente exploradas de modo a gerar efeitos de recepção como o medo e a repulsa. Por essas características, Coelho Neto tornou-se, após sua morte em 28 de novembro de 1934, um dos nomes de destaque do insólito ficcional no Brasil.
REFERÊNCIAS
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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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