Silvina Ocampo, nascida em 28 de julho de 1903, viveu em Buenos Aires, sua cidade natal, durante quase todos os anos de sua vida até falecer em 14 de dezembro de 1993. Estudou Artes Plásticas em Paris aos 26 anos, tendo como mentores De Chirico e o cubista Fernand Léger, além de amigos próximos como Xul Solar e Antonio Berni, mas logo retornou à Argentina e se enveredou para a arte literária. Destacada escritora argentina, considerada por muitos críticos como a maior contista de seu país, sempre viveu à sombra de célebres autores contemporâneos a sua época. E não se importava com isso.
Irmã de Victória Ocampo, que também foi escritora editora da memorável revista Sur, casada com o reconhecido escritor Adolfo Bioy Casares e amiga de Jorge Luis Borges, Silvina nunca desejou a fama, apesar de apresentar tão grande qualidade literária quanto os outros escritores supracitados. A própria escritora, caçula de seis irmãos, se autodenominava a “etecetera da família”. Preferia assim, pois podia escrever com maior tranquilidade e sem pressão externa enquanto as atenções estavam voltadas para as pessoas ao seu redor.
Seu anonimato era tão eficaz que somente em 2019 foi publicada pela primeira vez no Brasil, pela Companhia das Letras. Sua coletânea de textos com viés fantástico, “A Fúria” (1959), traz a autora para solo brasileiro de maneira inédita. Antes disso, a autora só havia sido mencionada em publicação no Brasil como organizadora da Antologia da Literatura Fantástica, juntamente com Bioy Casares e Borges. Nessa coletânea, os amigos reúnem textos de diversas épocas com seus autores preferidos da temática fantástica. O livro possui textos de Edgar Allan Poe, Franz Kafka, H.G. Wells, James Joyce, Julio Cortázar, Cocteau, Rabelais, entre outros.
Vanguardista em muitos aspectos, Silvina Ocampo apresenta em suas narrativas crianças cruéis, mulheres além do seu tempo e memórias retorcidas, como afirma Sylvia Colombo, construindo um universo carregado de significação pautada no espectro do insólito.
A também escritora argentina Mariana Enríquez assina a biografia de Silvina: La hermana menor – Un retrato de Silvina Ocampo, tem previsão de publicação no Brasil em 2020 e traz um olhar atento para a vida e obra tão relevante dessa importante autora. Segundo a biógrafa,
Quem a admirava decreta que foi ela quem escolheu este segundo plano. Seus contos são profundamente estranhos, contemporâneos, difíceis de se rotular – alguns experimentam com gênero, como aquele em que o narrador é um trapo que se transforma em ‘trapa’. Acho que o lugar secreto em que ela ficou, e onde certamente estava confortável, permitiu a ela essa liberdade de escrever contos radicais.
REFERÊNCIAS
COLOMBO, Sylvia. Resgate da obra de Silvina Ocampo joga luz sobre mulher vanguardista e liberal. Jornal Folha de São Paulo Ilustrada, 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/08/resgate-da-obra-de-silvina-ocampo-joga-luz-sobre-mulher-vanguardista-e-liberal.shtml. Acesso em 10 set. 2019.
SANCHEZ, Mariana. Silvina Ocampo: uma escritora disfarçada de si mesma. Pernambuco: Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado, s/d. Disponível em: https://www.suplementopernambuco.com.br/edições-anteriores/72-resenha/2165-silvina-ocampo-uma-escritora-disfarçada-de-si-mesma.html. Acesso em 12 set 2019.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
URBIM, Emiliano. Considerada por muitos a maior contista argentina, Silvina Ocampo tem obra publicada pela primeira vez no Brasil. Jornal O Globo – Cultura, 2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/livros/considerada-por-muitos-maior-contista-argentina-silvina-ocampo-tem-obra-publicada-pela-primeira-vez-no-brasil-23877442. Acesso em 11 set. 2019.