John William Polidori nasceu em 7 de setembro de 1795, em Londres. Polidori era médico, mas possuía pretensões literárias. Sua obra ficcional compreende dois livros de poesia, Ximenes, The Wreath and Other Poems (1819) e The Fall of the Angels: A Sacred Poem (1821); um conto, “O vampiro” (1819); e um romance, Ernestus Berchtold; or, The Modern Œdipus (1819). Ainda que o conto e o romance tenham sido pensados como histórias de fantasmas, “O vampiro” é a narrativa mais proveitosa para os estudos do Insólito e do Fantástico.
Em relação à curta vida do autor, o episódio mais notável é aquele ocorrido em abril de 1816, quando Lord Byron (1788-1824) convida o médico para cuidar exclusivamente de sua saúde e acompanhá-lo em sua partida definitiva da Inglaterra. Polidori acabara de se graduar como médico, com apenas dezenove anos, e aceita o convite de Byron.
É neste contexto que Polidori chega a Villa Diodati, em Genebra. Foi em um verão chuvoso de 1816 que o jovem conheceu o poeta Percy Shelley, Mary Godwin – a futura autora de Frankenstein (1818) – e sua irmã Claire Clairmont. É conhecida a história narrada por Mary Shelley em seu prefácio de 1831 a Frankenstein: a de que o grupo lia, em uma noite de tempestade, narrativas de uma tradução francesa de Fantasmagoriana, ou recueil d’histoires d’apparitions de spectres, revenants, fantômes, etc., traduzido por Jean-Baptiste Benoît Eyriès, em 1812. A partir da leitura, Byron teria sugerido que cada um deles escrevesse uma história de fantasmas. Mary Shelley – à época M. Godwin – escreveu Frankenstein; ou o Prometeu moderno; Percy escreveu “Fragment of a Ghost-Story”; Byron contribuiu apenas com seu “A Fragment”, uma narrativa incompleta; e Polidori, por sua vez, escreveu o romance Ernestus Berchtold. Mais tarde naquele ano, a pedido da condessa de Breuss, Polidori aproveitou as ideias utilizadas por Byron em seu “A Fragment” e escreveu “O vampiro”.
De alguma maneira, “O vampiro” chegou à Inglaterra, até Henry Colburn, famoso editor da época. O conto foi publicado em 1819, sem o conhecimento de Polidori, na revista New Monthly Magazine, que recebeu o manuscrito. Colburn publicou “O vampiro” conferindo a autoria a Lord Byron, e o lançamento foi um sucesso de vendas.
O conto tornou-se incrivelmente popular, e teve sete publicações ainda em 1819. Além disso, a narrativa na língua original foi publicada em Paris e traduzida para o francês e o italiano. No ano seguinte de 1820, surgiram peças inspiradas pela obra do jovem médico, que foram exibidas em Londres e em Paris. Entre elas, estava Le vampire, de Charles Nodier, que se destaca pelo fato de ser a peça melodramática mais conhecida inspirada na narrativa inglesa. A ópera alemã Der Vampyr (1828), de Heinrich August Marschner, também foi inspirada no conto de Polidori. Apesar do sucesso em toda a Europa, Polidori não recebeu nenhum crédito por sua obra.
Ainda que Polidori tivesse grandes aspirações – tanto em relação à sua carreira de médico como em relação a suas ambições literárias –, ele não foi bem-sucedido em nenhum de seus intentos, e cometeu suicídio em agosto de 1821.
Polidori mostra-se relevante para os estudos do Insólito ao inaugurar um novo tipo de vampiro da tradição da literatura gótica. Sabe-se que sua intenção era fazer uma crítica tenaz a Lord Byron, para quem trabalhou por três anos. Por tal razão, o arquétipo de personagem criado pelo autor é conhecido como o “vampiro byroniano”.
Diferente dos repulsivos seres do folclore europeu que saíam de seus túmulos para saciar sua sede por sangue, o vampiro byroniano é inteligente, sofisticado, aristocrata e sedutor. Note-se o fato de que Lord Ruthven, o vampiro criado por Polidori, não é descrito como belo, e sim como atraente e irresistível. Além disso, ainda que a criatura polidoriana seja sobrenatural, ela é descrita como um monstro humano, imoral e cruel. Como apontam diversos estudiosos, tal criatura ficcional tornará possível grandes personagens da tradição, com destaque para o Conde Drácula, de Bram Stoker, de 1897.
REFERÊNCIAS
GROOM, Nick. The vampire; a new history. New Haven: Yale University Press, 2018.
MACDONALD, David Lorne; SCHERF, Kathleen. Introduction. In: POLIDORI, John. The vampire and Ernestus Berchtold. Claremont: Broadview Press. p. 9-31, 2008.
ROSETTI, William Michael. The diary of Dr. John William Polidori; 1816; Relating to Byron, Shelley, etc. London: Elkin Mathews, 1911.
VIETS, Henry R. The London Editions of Polidori’s The Vampyre. In: The papers of the bibliographical society of America. (Second Quarter), v. 63, n. 2, p. 83-103, 1969.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
MACDONALD, David Lorne. Poor Polidori; a critical biography of the author of The Vampyre. Toronto: University of Toronto Press, 1991.
POLIDORI, John. The Vampyre and Ernestus Berchtold. Claremont: Broadview Press, 2008.
MORRISON, Robert; BALDICK, Chris (Org). The Vampyre and Other Tales of the Macabre. Oxford: Oxford University Press, 2008.