HORROR

Claudio Zanini 

Termo complexo que designa um gênero ficcional ou leitmotiv em outros gêneros que objetiva causar no público leitor ou espectador certa experiência emocional ou psicológica (NICKEL, 2010, p. 14) pautada no medo e na repulsa. A etimologia do termo indica sua origem no verbo latino ‘orrere’, (‘eriçar’, em provável referência ao eriçamento dos cabelos quando da exposição de alguém ao horror). Noël Carroll reitera tal etimologia, e agrega a ela a palavra do francês antigo ‘orror’, que pode significar ‘reagir raivosamente’ ou ‘tremer’ (1990, p. 24). O termo é frequentemente confundido ou utilizado erroneamente de maneira intercambiável com ‘terror‘. Em seu ensaio de 1826 On the Supernatural in Poetry, Ann Radcliffe diferencia os dois termos afirmando que enquanto o terror expande a alma e desperta nossas faculdades ao mais alto grau da vida, o horror as contrai e congela, quase que aniquilando-as (p. 150).

A obscuridade e a incerteza, assim como o mal, são elementos fundamentais na ficção de horror, e sua articulação resulta no sobrenatural, um dos tropoi mais importantes do gênero. As manifestações do sobrenatural no horror são variadas, e incluem histórias de vampiros (Drácula, de Bram Stoker, 1897), lobisomens (The Howling, de Gray Brandner, 1977), fantasmas (A Volta do Parafuso, de Henry James, 1898), zumbis (A Noite dos Mortos-Vivos, de George A. Romero, 1968) e manifestações sinistras do duplo (O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson, 1886), entre outros.

Noël Carroll diferencia o horror-arte, o horror presente na ficção e em outras expressões artísticas, do horror natural, aquele causado por desastres ecológicos, armas nucleares e pelo nazismo, por exemplo (1990, p. 12). Para Carroll, o horror-arte é um gênero originário do gótico e que teve início “pela época da publicação de Frankenstein – (…) – e que persiste, frequentemente de forma cíclica, através dos romances e peças do século XIX, e da literatura, quadrinhos, revistas pulp, e filmes do século XX” (1990, p. 13, tradução minha).

Outro tropo fundamental da ficção de horror, o monstro surge como expressão de anormalidade ou perturbação da ordem natural. Carroll sugere que a reação das personagens humanas perante o monstro serve como balizador da resposta que a ficção de horror espera do público; desta forma, o monstro combina nojo, náusea e repulsa, e está frequentemente associado “à imundície, à decadência, à deterioração, ao lodo, e assim por diante” (CARROLL, 1990, p. 22).

A complexidade ontológica do termo se dá principalmente devido ao fato de que gêneros e modos tão distintos quanto a ficção científica, o conto de fadas, o fantástico e o insólito podem tangenciar o horror através de seus recursos formais e estilísticos, ainda que este não seja seu objetivo principal. Além dos diversos gêneros e modos literários, a ficção de horror tem nos quadrinhos e no vídeo game outros campos férteis de expressão. Entretanto, é o cinema que proporcionou a maior cristalização do gênero, além de sua subdivisão em gêneros como o body horror, os filmes de possessão, o horror religioso, o pornô da tortura, o filme de estupro e vingança, o slasher, e o found footage, entre outros.

REFERÊNCIAS

CARROLL, Noël. The Philosophy of Horror, of Paradoxes of the Heart. Nova York: Routledge, 1990.
HORROR. Online Etymology Dictionary. Disponível em: https://www.etymonline.com/word/horror. Acesso em 01 maio. 2019.
NICKEL, Philip J. Horror and the Idea of Everyday Life: On Skeptical Threats in Psycho and The Birds. In: FAHY, Thomas. The Philosophy of Horror. Lexington: The University Press of Kentucky, p. 14-32, 2010.
RADCLIFFE, Ann. On the supernatural in poetry. New Monthly Magazine, v7, p. 145-152, 1826. Disponível em: http://seas3.elte.hu/coursematerial/RuttkayVeronika/ radcliffe_sup.pdf. Acesso em 01 maio. 2019.