WHITE PEOPLE (THE), literatura – Arthur Machen

Laís Santos

The White People (O Povo Branco) é uma história curta escrita por Arthur Machen (1863-1947), publicada pela primeira vez em 1904 em uma das edições da revista Horlick’s Magazine.

A narrativa trata da dualidade entre pecado social (social sin) e pecado autêntico (real sin). Enquanto que o pecado social é considerado apenas um pecado de condutas imorais, como por exemplo, delitos sociais – roubar, assassinar, furtar, etc. –, o pecado autêntico seria “a tentativa de penetrar em outra – e mais alta – esfera de um modo proibido” (MACHEN, 2017, p. 125). Ao se esforçar para alcançar o conhecimento e o êxtase que somente pertencem aos anjos, o homem se transforma em demônio, pois sua alma se enche de horror e espanto (MACHEN, 2017, p. 126). O pecado autêntico é esotérico e oculto e pode levar o homem ao manicômio ou a consequências ainda mais insólitas.

Para exemplificar a diferença entre os dois tipos de pecados é introduzido na narrativa um livreto que descreve o encadeamento de eventos incomuns que levaram uma jovem moça ao contato espiritual e físico com a bruxaria, culminando posteriormente em sua morte. Em todo o relato, escrito a punho pela própria jovem, há referências a certos “processos” que foram difundidos confidencialmente ao longo de muitos anos, de geração para geração.

Esses processos mencionados são rituais do Povo Branco, que se reuniam em segredo em florestas distantes e obscuras, onde ainda restavam ruínas e símbolos de templos dedicados a velhos deuses pagãos romanos. Lá eram realizadas cerimônias repletas de dança, de canto em diversas línguas antigas, chamadas de línguas das fadas, de gritos incompreensíveis e de mover de corpos em volta do fogo, aterrorizando os moradores locais que ouviam o ecoar dessas cerimônias por toda a madrugada.

A presença do paganismo e do horror cósmico é marcante em The White People (O Povo Branco) através da redescoberta de um velho mundo cujas ruínas ainda evocam o culto a deuses esquecidos e cujo conhecimento místico provoca a busca pelo êxtase espiritual, alicerçada no pecado autêntico, resultando na morte do pecador.

REFERÊNCIAS

MACHEN, Arthur. O Povo Branco. In: MACHEN, Arthur. Arthur Machen: o mestre do oculto. Tradução de Geraldo Campos. Jundiaí: Editora Clock Tower, p. 123-156, 2017.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BUTLER, Alison. Victorian Occultism and the Making of Modern Magic: Invoking Tradition. London: Palgrave Macmillan, 2011.
CAMARA, Anthony Christopher. Dark Matter: British Weird Fiction and the Substance of Horror, 1880-1927. 226 f. Tese (Doutorado, Philosophy in English) – University of California, Los Angeles, 2013. Disponível em: https://escholarship.org/uc/item/4ns5q1fv#main.
CARREIRA, Shirley de Souza Gomes. Nos meandros do fantástico: a Era Vitoriana segundo Arthur Machen. Organon, Porto Alegre, v. 33, n. 65, p. 1-12, 2018. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/organon/%20article/view/86263.
FRANZONI, Andrea. MysteriumTremendum: Terror and ecstasy in the works of Arthur Machen. Disputatio Philosophica: International journal on philosophy and religion, Zagreb, v. 16, n. 1, p. 159-168, 2015. Disponível em: https://hrcak.srce.hr/134463.
STARRETT, Vincent. Arthur Machen: A Novelist of Ecstasy and Sin. Chicago: Walter M. Hill, 1918. Disponível em: https://archive.org/details/arthurmachennove00star.