UNGULANI BA KA KHOSA – ficcionista

Luana Barossi

Ungulani Ba Ka Khosa é o nome Tsonga (grupo étnico do Sul de Moçambique e uma das línguas do tronco Bantu) de Francisco Esaú Cossa, nascido em 1957, na província de Sofala, em Moçambique. Khosa é ficcionista e professor. Sua carreira como escritor se iniciou com a publicação de contos, culminando na fundação da revista literária Charrua.

Khosa teve sua infância e adolescência no período da guerra de libertação de Moçambique (1964-1974) e, no início da idade adulta, viveu o processo de independência (que se deu, oficialmente, em 1975). Conviveu, desta forma, com os poetas e artistas que criaram suas obras a partir de uma perspectiva política militante. Embora a obra de Khosa tenha reflexos dessa poética das décadas de 1960 e 1970 em Moçambique, é com a complexificação de recursos formais e estruturais aliados a uma reconstituição da identidade moçambicana que o autor desenvolverá suas narrativas.

O autor declara, em entrevista à Rosália Estelita Gregório Diogo (2010) que suas inspirações transitam entre a capacidade de encontrar valores novos na maneira tradicional de ver as coisas do poeta José Craveirinha, o universo místico apresentado pelo artista plástico Malangatana e o boom da literatura fantástica latino-americana:

Para mim isso tudo foi fundamental. Para mim foi isso, e também a liberdade que eu encontrei na literatura latino-americana, hispânica, no sentido de permitir que, na escrita literária, tudo seja possível, seja feito com a proposição de novas regras de escrita e tudo o mais. Aquele boom da literatura fantástica latino-americana serviu cá para o meu país. (2010, p. 188)

Assim, Khosa promove certo deslocamento de uma tendência realista que predominava nas obras moçambicanas, inserindo elementos que dialogam com a tradição do realismo maravilhoso hispano-americano e com a ficção histórica de embasamento mítico. Nesse sentido, a formação de bacharel em história e geografia auxilia em um tratamento rigoroso nas pesquisas para a criação de sua obra ficcional, mas sempre aliada a esse recurso de intensificação por meio da presença do insólito.

Como recursos formais, é presente na obra do autor um amálgama do português com as diversas línguas faladas em Moçambique, em especial a tsonga; a reconstituição de mitos bantu, provérbios e uma articulação entre eventos históricos e aspectos insólitos.

O autor enfatiza a importância das línguas autóctones (que não são oficiais, como o português) na preservação dos elementos culturais moçambicanos. Desta forma, sua obra tem um caráter estratégico ao trazer à tona esses elementos linguísticos e culturais.

Fazem parte da obra de Ungulani Ba Ka Khosa o romance Ualalapi, de 1987 (publicada no Brasil em 2013), que ganhou o grande prêmio de ficção Moçambicana em 1990; Orgia dos Loucos, de 1990 (publicado no Brasil em 2016); Histórias de Amor e Espanto, de 1999; No Reino dos Abutres, de 2002; Os sobreviventes da noite, de 2007; Choriro, de 2009; Entre as Memórias Silenciadas, de 2013; O Rei Mocho, de 2016; Cartas de Inhaminga, de 2017 e Gungunhana, de 2018.

REFERÊNCIAS

DIOGO, Rosália Estelita Gregório. Ungulani ba ka Khosa: a literatura tem que transportar os valores das culturas e das línguas locais. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 14, n. 27, p. 187-193, 2010.

BBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR.

KHOSA, Ungulani Ba Ka. Ualalapi. Lisboa: Caminho, 1990.
KHOSA, Ungulani Ba Ka. Orgia dos loucos. Maputo: AEMO, 1990.
KHOSA, Ungulani Ba Ka. Histórias de amor e espanto. Maputo: [S.E.], 1999.
KHOSA, Ungulani Ba Ka. No reino dos abutres. Maputo: Imprensa Universitária, 2002.
KHOSA, Ungulani Ba Ka. Os sobreviventes da noite. Maputo: Texto Editores, 2008.
KHOSA, Ungulani Ba Ka. Choriro. Maputo: Alcance Editores, 2009.
KHOSA, Ungulani Ba Ka. O rei mocho. Maputo: Alcance Editores, 2012.
KHOSA, Ungulani Ba Ka. Entre memórias silenciadas. Maputo: Alcance Editores, 2013.
KHOSA, Ungulani Ba Ka. Gungunhana. Porto: Porto Editora; Maputo: Plural Editores, 2018.