JACOB LUDWIG CARL GRIMM – ficcionista

Sylvia Maria Trusen

GRIMM, Jacob Ludwig Carl nasceu em 04 de janeiro de 1785 na pequena cidade de Hanau na região norte do estado de Hesse, na Alemanha. Criança primogênita de uma família de outros sete irmãos, descendente do funcionário público e jurista Philipp Wilhem Grimm e sua mulher Dorothea – ela também fruto de uma família de juristas – foi o irmão mais velho de Wilhelm Carl, nascido um ano depois. Frequentou o Liceu na cidade de Cassel, juntamente com seu irmão mais novo, após a morte do pai, em 1796. Em 1802, rumou para a Universidade de Marburg, para seguir a carreira do pai.

Travou conhecimento com o pesquisador da História do Direito, Carl von Savigny, estudioso que exerceu papel relevante nos escritos de Jacob Grimm. Em 1812 é publicado o primeiro volume do Contos maravilhosos para a infância e para o lar (Kinder-und Hausmärchen). Jacob Grimm trabalhou nesta obra, sobretudo na recolha das narrativas, elaboração e pesquisa das fontes, e na primeira edição da obra (LEFFZ, 1927), ficando o trabalho de adaptação para o público infantil das edições subsequentes, sobretudo a cargo irmão mais novo, Wilhelm GRIMM (GINSCHEL, 1963).

Em abril de 1816, Jacob Grimm concluiu os estudos para a carreira diplomática e foi nomeado bibliotecário, em Cassel. O salário, ainda que baixo, viabilizou a Jacob prosseguir com os trabalhos de investigação filológica, sobre a língua, os mitos e lendas germânicas. Veio a lume, em 1816 o Sagas alemãs (Deutsche Sagen) e, em 1818, o segundo volume da obra. Três anos depois, em 1819, saiu a Gramática da Língua Alemã (Deutscher Grammmatik), publicada em três volumes até 1837. Neste mesmo ano, em 1819, Jacob e seu irmão mais novo, Wilhelm, receberam o título Doutor Honoris Causa pela Universidade de Marburg. Também neste ano, foi publicada a segunda edição do Contos maravilhosos para a infância e para o lar (Kinder-und Hausmärchen) acompanhada de volume anexo com informações referentes às fontes e versões.

O ano de 1830 trouxe alterações importantes. Ele e seu irmão mudaram-se para Göttingen, cidade universitária na qual Jacob Grimm assumiu o posto de bibliotecário e de Professor para História da Antiguidade Alemã, em Göttingen. Dois anos após, em 1832, apareceu o primeiro volume do Mitologia Alemã, (Deutsche Mythologie); o segundo volume saiu em 1844, e o terceiro, em 1854.

A data de 1837, quando Ernst August foi nomeado rei da região de Hannover, marcou outro episódio importante na biografia de Jacob e de seu irmão Wilhelm Grimm. O monarca suspendeu a constituição e os professores da Universidade de Göttingen, Friedrich Christoph Dahlmann, Georg Gervinus, Heinrich Ewald, Wilhelm Eduard Albrecht, Wilhelm Eduard Weber, além de Jacob e Wilhelm Grimm (chamados então os Sete de Göttingen“ »Göttinger Sieben«) protestaram contra a medida. Os Sete foram punidos, perdendo os cargos públicos. Jacob Grimm, Dahlmann e Gervinus foram exilados. Jacob então retornou para Cassel e passou a residir, por um período, com seu irmão Ludwig Emil Grimm (PETER, 1988).

No ano seguinte, 1838, Karl Reimer e Salomon Hirzel, proprietários da casa editora Weidmannschen, em Leipzig, dirigiram-se a Jacob e Wilhelm Grimm, propondo-lhes a elaboração do primeiro Dicionário da Língua Alemã (Deutschen Wörterbuchs), tarefa na qual se empenharam até o fim de suas vidas. (EWERS, 1984). Jacob Grimm faleceu em Berlim, após sucessivos ataques cardíacos, em 20 setembro de 1863.

De modo geral sua pesquisa e obra aparecem estreitamente enlaçadas ao ideal romântico de enaltecimento do que hoje se designa por nação alemã, mas que à época, constituía tão somente um mapa fragmentado de feudos com redes de relações mais ou menos hierárquicas entre si (GINSCHEL, 1963; ROCHA, FARIA, 2018). Esta fase do romantismo alemão é também conhecida como movimento de Heidelberg, ou Círculo de Heidelberg (HEISE, RÖHL, 1999; PETER, 1988), dada a atuação conjunta de intelectuais, poetas, filósofos, filólogos, e estudiosos da cultura germânica, todos movidos pelo intuito de testemunhar uma suposta unidade nacional, de modo a fazer frente, de um lado, à dispersão e heterogeneidade entre os reinos, de outro, a combater a influência francesa, em momento em que as forças de Napoleão invadiam o território germânico (MOSER, 1989). Jacob e Wilhelm Grimm, juntamente com outros nomes de sua época, tais como Clemens Brentano e Achim von Arnim, atuaram ativamente nesta fase adiantada do romantismo, unidos, em grande parte, por certa compreensão de Povo e de Natureza, identificados ambos com o espírito de expressão genuinamente nacional (Nationalgeist).

É, portanto, sob esta tela de fundo que se produziram tanto a pesquisa das lendas e sagas alemãs, por Jacob Grimm, quanto a recolha de narrativas tradicionais do maravilhoso (Contos maravilhosos para a infância e para o lar (Kinder-und Hausmärchen), as quais, a partir da segunda edição, e sobretudo sob a pena de Wilhelm Grimm, foram sendo acomodadas a uma certa noção de infância e de literatura endereçada ao lar.


REFERÊNCIAS

BRÜDER GRIMM. Briefwechsel der Brüder Grimm, 1-1. Kritische Ausgabe. In: Einzelbände. Stuttgart: Hirzel, 2001.
EWERS, Heins-Heino (Org). Kinder- und Jugendliteratur der Romantik. Stuttgart: Reclam, 1984.
LEFFZ, Joseph. Vorwort. In: BRÜDER GRIMM. Märchen der Brüder Grimm. Urfassung nach der Originalhandschrift der Abtei Ölenberg im Elsass. Heidelberg: Carl Winters Universitätbuchhandlung. p. 07-29, 1927.
GINSCHEL, Gunhild. Der Märchenstil Jacobs Grimm. Deutsches Jahrbuch für Volkskunde, v. 9, n. 1, p. 131-168, 1963.
HEISE, Eloá; RÖHL, Ruth. História da literatura alemã. São Paulo: Ática, 1986.
MOSER, Hugo. Sage und Märchen in der deutschen Romantik. In: Vários autores. Die deutsche Romantik: Poetik, Formen und Motive. 4. ed. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1989.
PETER, Klaus. Romantik. In: BAHR, Ehrhard (Org). Geschichte der deutschen Literatur. Von der Auflärung bis zum Vormärz. Tübingen: Francke, v. 2, p. 327- 410, 1989.
ROCHA, R. de C.; FARIA, N. R. B. Jacob Grimm: da exaltação da língua alemã à linguística do século XIX. Revista da Anpoll. Florianópolis, v. 1, n. 45, p. 263-275, 1989.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

STEFFEN, Hans. Die deutsche Romantik: Poetik, Formen und Motive. 4. ed. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1989.
TRUSEN, Sylvia Maria. Do veto à alteridade: nas sendas do conto dos Grimm. Brathair. Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 65-72, 2005.
TRUSEN, Sylvia Maria. Do enredo de um nome: Märchen, Maere, Maerlîn. Fronteiraz. São Paulo, v. 3, n. 3, p. 1-9, 2009.
TRUSEN, Sylvia Maria. Do maravilhoso à literatura infantil: deslocamentos de um gênero. Revista Olho d’água, Revista do Programa de Pós-Graduação da UNESP. São José do Rio Preto, v. 4, n. 1, p. 87-96, 2009 [2012].
VOLOBUEF, K. Os Irmãos Grimm e as raízes míticas dos contos de fadas. In: VOLOBUEF, K; ALVAREZ, Roxana Guadalupe Herrera;  WIMMER, N (Orgs). Dimensões do fantástico, mítico e maravilhoso. Araraquara: FCL-UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, p. 47-62, 2011.