MISS Z, THE DARK YOUNG LADY, literatura – Angela Carter

Cleide Antonia Rapucci

Miss Z, The Dark Young Lady, ilustrado por Eros Keith, é o primeiro livro infantil de Angela Carter (1940-1992) e pode ser considerado um conto de fadas. Foi publicado em 1970 como The Donkey Prince, também importante obra infantil carteriana. McDowell (1982) afirma que os livros infantis de Carter reforçam o talento para a fantasia, detalhes visuais e diálogos cômicos. Carter utiliza uma prosa bastante elaborada, o que leva McDowell a fazer a seguinte observação: os adultos devem ler esses livros para as crianças devido ao vocabulário sofisticado e à complexa estrutura frásica.

Marina Warner (1993), na introdução a The Second Virago Book of Fairy Tales, afirma que Carter gostava do senso comum sólido das histórias folclóricas, dos objetivos diretos dos protagonistas, das distinções morais simples e dos estratagemas ardilosos que sugerem. São contos dos oprimidos, sobre a sagacidade que vence; são práticos.

De acordo com Jack Zipes (2001), essas duas histórias infantis de Carter (Miss Z e The Donkey Prince), formaram a base para a futura obra de Carter e revelam alguns de seus conceitos básicos em relação à tradição revisionista dos contos de fadas.

Zipes (2001) enfatiza as características de Carter como escritora, que ela passou para suas heroínas dos contos de fadas para crianças: matreira (“sly”), sagaz e ladina (“cunning”). Segundo o crítico, nesses dois contos, Carter não só capta a qualidade prática da tradição folclórica oral, mas dá aos contos uma sofisticada compreensão do mundo, uma estratégia de sobrevivência, que está de acordo com seu ponto de vista feminista e radical.

O livro trata de uma menina, Miss Z, apresentada como uma “dark young lady” (“jovem escura”), que vive com o pai na Floresta dos Papagaios. Exasperado pelo barulho que os papagaios fazem, o pai mata o Rei Papagaio. O restante dos pássaros voa para longe e uma maldição cai sobre a floresta. Com a ajuda de vários animais, ela faz uma viagem perigosa à terra dos leões verdes para persuadir os papagaios a retornar.

Os auxiliares são um animal pequeno, sem pelos e sem dentes, que tem um bigode vermelho e se chama Odd, uma “cobra com escamas e asas” (CARTER, 1970, p. 15) que se apresenta como Dragon e um unicórnio vaidoso, que coloca a cabeça nos joelhos dela e lhe diz: “— Agora estou em seu poder. […] Considere-se afortunada, porque sou o mais belo de todos os unicórnios” (CARTER, 1970, p. 20). Chevalier & Gheerbrant discutem o mito da dama com o unicórnio, que só pode ser capturado pelo ardil de uma donzela que o adormece com o perfume de um leite virginal (p. 920). Aqui no texto carteriano, o unicórnio se apresenta espontaneamente. Ainda segundo Chevalier & Gheerbrant, o unicórnio parece ser apenas uma variante do dragão, ambos símbolos régios.

Usando sua coragem e empreendimento, Miss Z consegue restaurar a harmonia novamente. Miss Z é uma típica heroína carteriana, conforme podemos ver por algumas de suas ações. Quando a narrativa inicia, ela está costurando para si um vestido mágico, o que significa que ela faz a magia com as próprias mãos. Também já de início ela “pensa rápido”, inventando um artifício quando o Rei Papagaio vem para matar o pai dela (CARTER, 1970, p. 6). Ela mente para ele dizendo que o pai havia ido à Cidade Humana e lhe dá brandy para beber enquanto sai à procura do pai na floresta para avisá-lo. E depois, após a maldição, ela termina o vestido a mão, já que a máquina de costura não funcionava mais. Assim, Miss Z enfrenta situações difíceis com astúcia, sabe negociar e, com sua habilidade, consegue promover a reconciliação entre os papagaios e seu pai.

REFERÊNCIAS

CARTER, A. Miss Z, The Dark Young Lady. London: Heinemann, 1970.
CHEVALIER, J., GHEERBRANT, A. Dicionário de símbolos. 2.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.
McDOWELL, M. B. Angela Carter. In: VINSON, J. (Ed.) Contemporary Novelists. 3.ed. New York: St. Martin´s, p. 129-30, 1982.
WARNER, M. Introduction. In: CARTER, A. (Ed.) The Second Virago Book of Fairy Tales. London: Virago, p. ix-xvi, 1993.
ZIPES, J. Crossing Boundaries with Wise Girls: Angela Carter’s Fairy Tales for Children. In: ROEMER, D. M., BACCHILEGA, C. (Ed.). Angela Carter and the Fairy Tale. Detroit: Wayne State UP, p. 159-166, 2001.