DARK FANTASY

Oscar Nestarez

Dark fantasy, também conhecida como fantasia dark ou sombria, é a vertente literária que incorpora elementos da ficção de horror em uma ou mais fórmulas da ficção de fantasia, como se optou por denominar o gênero literário para que se faça a distinção do sinônimo para “imaginação”. Assim como ocorre com a sua matriz – cujo termo advém do inglês fantasy –, a denominação dark fantasy designa um conjunto de obras que proliferaram no começo do século XX, sobretudo no Reino Unido e em vários outros países de cultura anglo-saxônica (Estados Unidos, Canadá, Irlanda etc.). Embora atualmente se observe um crescente interesse por tais narrativas em quase todo o mundo – e em outras linguagens, como o cinema, os quadrinhos, os jogos de RPG e os vídeo games –, aqueles países ainda respondem pela parte mais significativa da produção literária. Vem daí a maior acepção do termo em seu idioma original, mesmo em países lusófonos.

De acordo com o autor e pesquisador britânico Brian Stableford, a designação muitas vezes é utilizada de forma semi-eufemística como substituto para horror. No entanto, obras de dark fantasy distinguem-se por estabelecerem um pacto de leitura que implica plena aceitação, por parte do leitor, de todos os elementos insólitos surgidos ao longo da ação. Assim como ocorre com textos do gênero maravilhoso, nas narrativas da vertente aqui aludida não há preocupação com a verossimilhança. As tramas desenvolvem-se em mundos ou universos paralelos, diversos, mágicos (muitas vezes designados como “secundários”), regidos por leis diferentes daquelas que controlam o nosso mundo conhecido (comumente entendido como “primário”).

Como exemplos, Stableford cita grande parte das obras de sword and sorcery (espada e feitiçaria), cujo maior expoente (e alegado fundador) foi o escritor estadunidense Robert E. Howard (1906-1936), tornado célebre pela autoria do personagem Conan, o Bárbaro. De acordo com o pesquisador britânico, narrativas desse conjunto apresentam as características aqui apontadas e são marcadas pelo tom sombrio. Também são mencionadas inúmeras obras publicadas em revistas pulp por autores do círculo de H.P. Lovecraft, como Clark Ashton Smith.

No entanto, as fronteiras são movediças. De acordo com Brian Stableford, o termo dark fantasy também é aplicável a obras do fantástico, ou, na denominação do pesquisador inglês, da fantasia intrusiva, quando o enredo se desenvolve no mundo primário ou natural e há uma irrupção do elemento sobrenatural. Nesses casos, afirma o inglês, as narrativas têm, como palco, o mundo dito real, conhecido, primário; mas o incômodo existencial gerado por entidades mágicas, implausíveis é cuidadosamente marginalizado, de modo que eles são incorporados à normalidade do relato. Nesta seara, encontramos obras de autores contemporâneos, como The dark tower, de Stephen King, Weaveworld, de Clive Barker, e Shadowland, de Peter Straub. Narrativas de Neil Gaiman como American Gods, Neverwhere e Coraline, entre outras, também costumam receber essa qualificação.

REFERÊNCIAS

STABLEFORD, Brian. The A to Z of Fantasy Literature. Plymouth (UK): Scarecrow Press, 2009.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

MENNA, Lígia. A ficção de fantasia e o maravilhoso na animação francesa “Casa dos contos de fadas”. In: XV Congresso Internacional da ABRALIC. Rio de Janeiro: UERJ, p. 4929-4939, 2017.
PROPP, Vladimir. As raízes históricas do conto maravilhoso. Tradução de Rosemary Costhek Abílio e Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 1997.