Nascida em Londres, em 9 de julho de 1764, Ann Radcliffe pode ser considerada a escritora gótica de maior sucesso da literatura inglesa setecentista. Sobre a sua vida pessoal pouco se sabe, uma vez que ela viveu de forma discreta e se manteve distante do meio literário da época. No entanto, o sucesso adquirido por meio de romances que investiram no medo como forma de suscitar prazer estético incitou todo tipo de comentário macabro a seu respeito, em uma tentativa de explicar os terrores da obra pela biografia de sua autora.
Porém, até sua morte, em 7 de fevereiro de 1823, nada de anormal fora comprovado sobre a escritora britânica. Pelo contrário, a despeito de sua vida reclusa, Radcliffe gozava de boa reputação entre os críticos literários – unânimes em legar uma recepção positiva aos seus romances – e foi celebrada por outros escritores contemporâneos. Para Nathan Drake, ela era a “Shakespeare dos romancistas”, já para Walter Scott, poderia ser considerada “a primeira poetisa da ficção romântica”.
A obra radccliffeana conta com seis romances, uma narrativa de viagem, além de um ensaio e poemas. Seu romance de estreia, The Castles of Athlin and Dunbayne, foi publicado em 1789, anonimamente. A ele se seguiram A Sicilian Romance (1790) e The Romance of the Forest (1791). Com este último, a escritora conseguiu maior prestígio no meio literário e popularidade entre os leitores, e seu nome passou a estampar a capa de suas obras. Seus dois últimos romances publicados em vida são, também, considerados os mais importantes: The Mysteries of Udolpho (1794) e The Italian (1797). Postumamente, seria publicado Gaston de Blondeville (1826), a última de suas narrativas góticas. A esse conjunto de obras ficcionais soma-se o famoso ensaio “On the Supernatural in Poetry” (1826), conhecido por conter uma das primeiras distinções entre os efeitos do horror e do terror na literatura.
Em seus romances, Ann Radcliffe formalizou um tipo de enredo que explorava o suspense da perseguição de personagens femininas jovens, inocentes e virtuosas, por vilões aristocratas cruéis e implacáveis, investia em descrições sublimes de paisagens naturais e castelos labirínticos, sombrios e em ruínas. Além disso, Radcliffe popularizou a técnica do sobrenatural explicado como recurso da ficção gótica. Os eventos sobrenaturais e fantasmagorias típicos dessa literatura eram utilizados, em suas narrativas, como forma de instigar a curiosidade do leitor e suscitar os efeitos estéticos do medo, mas eram explicados, ao final da história, segundo as leis da razão.
As características das obras radcliffeanas foram reaproveitadas e reformuladas ao longo do século XVIII por escritoras que tentaram emular o seu sucesso e passaram a integrar uma vertente feminina do Gótico – entendida, posteriormente, como Gótico feminino. Portanto, Ann Radcliffe figura, junto com Horace Walpole e Matthew Lewis, entre um grupo de escritores cuja importância foi fundamental para a literatura gótica, e, também, para toda a ficção relacionada ao sobrenatural e ao medo.
REFERÊNCIAS
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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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