SAMANTA SCHWEBLIN – ficcionista

Maria Luiza Atik

Samanta Schweblin nasceu na Argentina, em 1978, onde estudou Cinema e Televisão, na Universidade de Buenos Aires. Aos vinte anos iniciou a sua carreira literária, sendo logo reconhecida pelo público e pela crítica. Em 2001, seu conto “Hacia la alegre civilización de la capital”, recebeu o prêmio do Concurso Nacional Haroldo Conti (Argentina) e no mesmo ano, com a publicação do seu primeiro livro de contos, El núcleo del distúrbio, obteve o prêmio do Fondo Nacional de las Artes. Em 2008, com a publicação da coletânea de contos Pájaros en la boca foi agraciada com o prêmio da fundação cubana Casa de Las Américas, obtendo também a Bolsa Fonca (Fondo Nacional para la Cultura y las artes), do México.

A escritora ganhou maior visibilidade no universo das letras ao ser escolhida para a seleção de jovens escritores em língua espanhola da revista literária Granta, juntamente com vinte e dois escritores da Espanha e de sete países latino-americanos, em 2010. Com a publicação do conto “Un hombre sin suerte”, em 2012, incluído posteriormente na coletânea Siete casas vacías, Schweblin recebeu o Prêmio Juan Rulfo, concedido em conjunto pela França, Espanha e México. No período de 2014 a 2015, foi-lhe outorgado os seguintes prêmios: Konex  (2014, Argentina) – Diploma de Mérito por sua trajetória como contista durante os anos de 2009 a 2013; Prêmio Ribera de Duero de Narrativa Breve por Siete casas vacías (2015, Espanha); Prêmio Tigre Juan de Novela por Distancia de rescate (2015, Espanha).

Em 2014, Samanta Schweblin publicou seu primeiro romance de suspense psicológico, horror e fantasia sombria, intitulado Distancia de rescate. Traduzido para o inglês por Megan McDowell e, publicado com o título Fever Dream, pela Riverhead Books (2017), a romancista argentina foi novamente agraciada por um prêmio internacional, Prêmio Shirley Jackson de Melhor Novela (2017), ao lado de The Lost Daughter Collective, de Lindsey Drager. O romance Distancia de rescate será em breve lançado em uma versão cinematográfica pela cineasta peruana Claudia Llosa, como mais uma produção da Netflix.

Recentemente, vivendo em Berlin, Samanta Schweblin publicou o romance Kentukis (Vintage Espanhol, 2019), que nos oferece uma crítica da sociedade atual, em que a tecnologia domina as relações entre os indivíduos. Os Kentukis, bonecos de aparência amigável e inofensiva, permitem o acesso à intimidade de pessoas de diferentes países, levando-nos a uma alucinante perspectiva a respeito do voyeurismo na contemporaneidade.

Segundo alguns críticos, a obra de Samanta Schweblin inscreve-se na tradição de autores como Quiroga, Cortázar e Borges. Ela resgata nas entrelinhas de suas narrativas o realismo fantástico e, de forma muito particular, traz de volta o cotidiano desconfortável, embaraçoso de Julio Cortázar. Para a autora, contudo, seus contos são mais realistas do que o de seus precursores, embora sejam muitas as situações anormais que invadem a vida cotidiana, questionando a validez dos sistemas de percepção da realidade comumente admitidos pela sociedade.

Em entrevista a Ariel Palácios em 30 de março de 2013, publicada pelo Estado de São Paulo, Samanta Schweblin afirma que dois ou três contos de Pássaros na Boca podem ser considerados fantásticos, os demais, em sua maioria, são realistas, embora estejam concentrados em situações “anormais”, ou melhor, devem ser considerados super-realistas, pois os mesmos problemas presentes nas narrativas poderiam ocorrer com o próprio leitor. Para a autora, aquilo que consideramos “normal”, às vezes não é mais que um pacto social, um espaço seguro onde podemos nos mover sem nunca vislumbrar o desconhecido. Seu objetivo é, pois, encontrar um meio de desvendar uma realidade mais profunda, uma realidade que questiona tanto o ponto de vista lógico, como o ilógico. Talvez os silêncios ou os vazios que devem ser preenchidos pelo leitor sejam justamente o ponto alto da ficção de Samanta Schweblin.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

PALÁCIOS, Ariel. A contista argentina Samanta Schweblin fala de ‘Pássaros na Boca’, que a lança no Brasil. Estado de São Paulo, 2013. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,a-contista-argentina-samanta-schweblin-fala-de-passaros-na-boca-que-a-lanca-no-brasil,855611,0.htm.
LA PERIÓDICA REVISIÓN DOMINICAL. El núcleo del disturbio de Samanta Schweblin: la tensa espera a la que llamamos vida. Disponível em: laperiodicarevisiondominical.wordpress.com/…/el-n.
REIS, Roberto. O fantástico do poder e o poder do fantástico. v. 1, n. 13, 1980. Disponível em: http://ideologiesandliterature.org/docs/journals/journals.pdf.
SCHWEBLIN, Samanta. Pássaros na boca. São Paulo: Saraiva, 2012.
SCHWEBLIN, Samanta. Sitio web de la Agencia Literaria Carmen Balcells, 1978. Disponível em: http://www.agenciabalcells.com/autores/autor/samanta-schweblin/.
TINOCO, Paola. Samanta Schweblin: lo fantástico de la realidade, 2013. Disponível em: http://www.vice.com/es/read/samanta-schweblin-lo-fantastico-de-la-realidad.