ROSÁRIO FUSCO – ficcionista

Marta Dantas

Ficcionista, poeta e dramaturgo, Rosário Fusco de Souza Guerra nasceu em 19 de julho de 1910, em São Geraldo, Minas Gerais, mas foi na comarca vizinha, Cataguases, que começou sua aventura literária. Foi um dos fundadores da revista Verde (1927-1929), reconhecida como um capítulo importante na história do modernismo e das vanguardas no Brasil. Do grupo da Verde, foi o mais jovem e o elo do grupo com Mário de Andrade (com quem se correspondeu longamente) e com o exterior, sobretudo América Latina. Segundo alguns críticos, foi também o mais irreverente e dotado de estranha sensibilidade. Formou-se em Direito, em 1937; trabalhou na imprensa carioca como crítico literário. Atuou também como publicitário e cronista de rádio; foi procurador do antigo estado da Guanabara, cargo em que se aposentou. Entre 1941 e 1943 colaborou com a revista Cultura Política – órgão de propaganda do Estado Novo financiada pelo DIP (Departamento de Informação e Propaganda) e, ainda nos anos quarenta, foi adido cultural da Embaixada do Brasil no Chile. Traduziu Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), do francês para o português, publicado em 1960 pela editora José OlympioIniciou-se na ficção na contramão da literatura brasileira dos anos 30 e 40 do século passado. Sua produção ficcional se resume a seis romances: O agressor (1943, reeditado em 1976 e 2000), O livro de João (1944), Carta à noiva (1954), Dia do juízo (1961), a.s.a. – associação dos solitários anônimos (1967), publicado postumamente em 2003, e o inédito Vacachuvamor. Todos eles marcados pela presença da crise psicológica dos personagens, pela fronteira mal delimitada entre sonho e realidade, pelo insólito, pelo absurdo, pelo erótico. Sua primeira obra ficcional e a mais conhecida, O Agressor (1943), não passou despercebida. Sérgio Milliet tomou-o como um “romance surrealista” cuja trama é absurda e inacessível ao público. Guilherme de Figueiredo salientou a ausência do colorido regional. Antonio Cândido afirmou ser o romance uma transplantação indevida e artificial do clima kafkiano e do surrealismo, distante da concepção geral do pensamento e da literatura ao qual se originou. Por ocasião da publicação da terceira edição de O Agressor, em 2000, Lêdo Ivo atribuiu ao autor o importante papel de introdutor de Kafka na literatura brasileira e considera seu vanguardismo responsável pelas mudanças ocorridas na ficção nacional. Em 1969, de O agressor foi publicado na Itália, e teve seus direitos autorais comprados por Orson Welles.

Ao longo dos anos, a crítica aproximou o conjunto de sua obra ficcional ao realismo fantástico, aproximação recusada por Fusco que afirmava ser sua obra “suprarrealista”. Faleceu em 17 de agosto de 1977, aos 67 anos. Dionisíaco, guerreiro, exuberante, anárquico, são alguns dos adjetivos que escritores e jornalistas encontraram para manifestarem suas opiniões sobre o homem Rosário Fusco, mas pouco sabemos sobre sua vida e menos ainda sobre a efetiva contribuição de sua obra para a história da literatura brasileira.

REFERÊNCIAS

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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

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WERNECK, Ronaldo. Sob o signo do imprevisto. Cataguases. MG: Poemação Produções, 2017.