LOBISOMEM

Alexander Meireles

Semelhante a outros seres sobrenaturais de fronteira, como o Fantasma, o Vampiro e o Zumbi, o Lobisomem marca presença na história da humanidade desde tempos imemoriais (GUILEY, 2005). No caso específico da criatura humano x animal, resultado de punições, feitiços, maldições, ou como parte de rituais religiosos a fragilidade desta linha está representada em povos ancestrais nas práticas etnomédicas do xamanismo e na doutrina da metempsicose. Sobre o primeiro, culturas tão diversas quanto os manchus e tungues na China, os vikings, na Escandinávia, e os índios guarani, no Brasil, possui entre eles a figura do xamã, reconhecido como um homem ou uma mulher comumente chamado de feiticeiro, curandeiro, pajé ou outro termo que, dentre outros atributos, tinha o conhecimento de se comunicar misticamente com os animais (FISKE, 1996). Segundo a crença, a íntima ligação com os chamados “Animais de Poder”, também permitia que, por vezes, estas pessoas se transformassem nas criaturas a elas ligadas. Relacionado ao xamanismo, mas não exclusivo dele, a metempsicose, por sua vez, é o termo usado para designar a passagem da alma de um corpo para outro, seja este corpo do mesmo tipo de ser vivo ou não. Amplamente difundida na Antiguidade no Egito, Itália, China e Índia e tendo sido também tema das considerações filosóficas de pensadores gregos como Platão e Pitágoras, esta doutrina considera a possibilidade da alma humana encarnar em animais ou vegetais (BARING-GOULD, 2003).

Xamanismo e metempsicose estariam assim na possível origem das criaturas sobrenaturais que tomam a forma dos animais respeitados, temidos ou divinizados em suas sociedades. Desta forma, na África existe a crença no Bouda, o homem-hiena; no Canadá, os nativos acreditam no homem-urso; na Índia a população próxima às florestas temem um homem-tigre; as Filipinas, por sua vez, contam com os homens-cães chamados Aswangs e, no Japão, os Kitsunes, os homens-raposa, são os agentes do medo. No Brasil, esta tradição encontra forma na lenda de um vaqueiro de mão torta cujo castigo pelas maldades praticadas em vida foi ser amaldiçoado com a forma de uma onça de pata torta que assombra o cerrado brasileiro (CASCUDO, 1983). Mas, indubitavelmente, dada a influência do Velho Mundo sobre o desenvolvimento da cultura ocidental, seria na Europa que o temível caráter predatório do lobo disseminaria na mentalidade popular e posteriormente na literatura e na cultura de massa o temor ao homem, mulher ou até mesmo criança que voluntaria ou involuntariamente se transforma em lobo, passando a ser chamado de lobisomem. Xamanismo e metempsicose sozinhos, todavia, não conseguem abarcar as diversas manifestações deste fenômeno. Dentre outras possibilidades para o surgimento desta criatura, figuram cerimônias, crenças e teorias que vão do sociológico ao mitológico passando pelo antropológico, centradas na imagem do lobo. A Antiguidade clássica fornece as primeiras pistas do lobisomem na Roma antiga, cuja própria gênese é alicerçada na lendária figura da loba que teria criado os fundadores da cidade, os gêmeos Rômulo e Remo na caverna chamada Lupercal. Em homenagem a esse local foi instituído o festival pastoril romano conhecido pelo nome de Festas Lupercais que corresponde hoje ao dia 14 de fevereiro.

Não foi à toa, portanto, que dentro deste quadro cultural a mitologia romana ofereceu uma das primeiras explicações para o lobisomem na obra Metamorfoses, de Ovídio (8 d. C.), no qual o poeta descreve como Lykaon, rei da Arcádia, certa vez convidou Júpiter (o Zeus dos gregos) a sua casa para jantar e lhe serviu um bolo com carne humana vinda de um de seus servos a fim de testar a onisciência do deus. Como punição pela sua blasfêmia Júpiter transformou Lycaon em um lobo. A partir de então, segundo Plínio o velho, em Evanthes, a cada ano no festival de Júpiter Lykaios (o brilhante) um nobre arcadiano era levado ao rio local e, lá, pendurava suas roupas em uma árvore e entrava no lago, se transformando em lobo (SUMMERS, 2003). Por nove anos este lobisomem circulava pela floresta da região e, caso não consumisse carne humana durante este tempo, tinha o direito de novamente adentrar nas águas do lago arcadiano, vestir as mesmas roupas ainda lá depositadas e retomar sua forma humana. Ainda é relatado que um jovem de nome Demaenetus, tendo assistido a um sacrifício humano em Arcádia dedicado a Júpiter Lykaios, comeu carne humana e imediatamente se transformou em lobo, condição esta na qual permaneceu por dez anos. Por trás das histórias de Ovídio e Plínio, especula-se que o fato da Arcádia ser considerada o berço da lenda do lobisomem se deveu ao fato desta região ter sido historicamente habitada predominantemente por pastores que sofriam com seguidos ataques de lobos. O rei Lycaon instituiu então o sacrifício anual de uma criança para aplacar a ferocidade dos lobos, estabelecendo desta forma a conexão de seu nome com estes animais, fato este reforçado pela semelhança das palavras Lycaon e lykos (lobo, em grego), o que gerou no mundo clássico o termo “Licantropo”, que é comumente usada como sinônimo de lobisomem. Mas é fundamental que se faça aqui uma distinção entre os nomes. Ainda que principalmente na Idade Média tenha se usado palavra “Licantropia”, formada pelas palavras gregas lobo (lykos) e homem (anthropos), para designar a maldição do lobisomem, hoje em dia ela vem sendo mais usada para descrever um distúrbio mental em que a pessoa afetada imagina se transformar em lobo (GUILEY, 2005). Quanto à aparência, dentro da esfera das lendas e folclore, geralmente quando alguém se transforma em lobisomem ele ou ela assume por completo a forma de um lobo. Às vezes e de forma mais rara, a pessoa também pode se apresentar como um ser de forma híbrida que anda de forma encurvada em duas pernas como o homem, mas possui feições de lobo, semelhante à imagem tradicionalmente veiculada pelo Cinema e TV. O individuo também pode possuir a cabeça de um lobo e corpo de homem ou ainda ter o corpo de lobo, mas apresentar olhos e mãos humanas. Quanto à duração da transformação, ela pode ser permanente ou temporária e, neste segundo caso, tradicionalmente ocorre na Lua Cheia. Durante o dia, o lobisomem esconde sua condição na forma humana, mas se ele sofrer um ferimento enquanto lobo, um ferimento correspondente surgirá no seu corpo humano. Da mesma forma, caso a criatura venha a perder algum membro ao ser atacada, a parte amputada reassume sua forma humana. Este, aliás, é um dos temas recorrentes na literatura de lobisomem como se observa em contos pioneiros do gênero como o anônimo “O braço cortado; ou O lobisomem de Limousin” (1820) e “Hugues, o lobisomem: uma lenda kent da Idade Média” (1838), de Sutherland Menzie, pseudônimo da escritora Elizabeth Stone.

Aos que encontram esta criatura nas estradas, o folclore brasileiro aconselha desencantá-lo causando-lhe um ferimento que verta sangue ou dando-lhe um tiro com bala untada em cera de vela que ardeu em três missas de domingo ou na Missa do Galo, na meia noite do Natal. Outra eficaz arma é o sino-saimão (signo de Salomão) (CASCUDO, 1983). Dentro deste campo, o famoso uso da prata para matar estes seres possuem sua origem não nas crenças ligadas ao tema, mas na literatura, tendo surgido com o romance O lobisomem de Paris (1933), de Guy Endore. Segundo o folclore europeu, algumas pessoas estariam predestinadas a se tornarem lobisomens devido a particularidades de seu nascimento, como terem nascido na noite da Véspera de Natal, ou em decorrência de certos traços de sua aparência. Tais sinais incluiriam sobrancelhas grossas que se juntam sobre o nariz, unhas compridas e curvas, orelhas pequenas, presença de um terceiro dedo excepcionalmente longo em cada mão, tez amarelada, cabelos cor parda com laivos escuros e abundante presença de pelos nas mãos e nos pés. De acordo com a tradição popular brasileira, herdada de Portugal, também estão predestinados os filhos de casos incestuosos, filhos de compadre e comadre e de padrinho e afilhada. O mesmo destino está reservado ao menino nascido depois de sete meninas. Ainda segundo o nosso folclore, depois de se transformar em uma encruzilhada, o lobisomem precisa visitar sete cemitérios, sete outeiros e sete partidas do mundo (CASCUDO, 1983). A mordida de um lobisomem é o método mais comum para se transmitir a maldição de uma pessoa para outra, mas existem várias outras maneiras de se tornar uma destas temíveis criaturas. Em alguns casos a causa é hereditária e afeta gerações de uma mesma família. Uma transformação involuntária geralmente é decorrente de maldição, como é o caso do conto “A marca da besta” (1891), de Rudyard Kipling, ou possessão demoníaca. Já na transformação voluntária a pessoa precisa realizar um pacto com o Diabo de forma que o ser infernal lhe conceda uma pele de lobo ou cinto feito do mesmo material que deve ser vestido pelo interessado. Outras superstições de origem medieval relacionam o surgimento do lobisomem com certos atos que devem ser evitados, como beber água de uma poça pisada por um lobo, comer o cérebro de um lobo, dormir no chão em campo aberto em uma noite de sexta-feira e colher ou usar certas flores (LINDAHL, MCNAMARA, LINDOW, 2002).

Chama a atenção nas crenças e superstições que cercam o lobisomem o medo reservado desde o mundo antigo aos lobos. Ainda na mitológica clássica, a capa usada por Hades, o senhor do inferno grego, é feita de pele de lobo, o mesmo material das vestimentas de Caronte, o barqueiro, que conduz a alma dos mortos ao mundo inferior. Esta conexão com a morte também se vê com a figura do deus Apolo, que no primeiro livro da Ilíada, de Homero, é descrito como um deus da praga, estabelecendo a ligação de seu epíteto lício (lobo) como aquele que traz a destruição. Fora do mundo greco-romano a ligação desse animal com a morte e a destruição aparece nas crenças religiosas dos povos nórdicos na forma de dois lobos deitados aos pés do deus das batalhas Odin e na imagem de um dos mais implacáveis inimigos dos deuses: o lobo gigante Fenris (SUMMERS, 2003). Fora da esfera mitológica, uma leitura antropológica do espaço reservado ao lobo dentro da antiga cultura nórdica lança luzes sobre outra explicação para a origem do lobisomem e aponta para a possível disseminação desta crença no sul do continente a partir das figuras dos eigi einhamir e do berserker (BARING-GOULD, 2003). Dentre os povos escandinavos acreditava-se que algumas pessoas, homens e mulheres, eram eigi einhamir, ou seja, “não de uma só pele”, o que indicava que eles poderiam ocupar os corpos de outros animais, geralmente ursos e lobos, ou se transformar nestes seres. No primeiro caso, a alma do indivíduo abandonava o corpo deixando-o em estado catatônico semelhante à morte, e então migrava para o corpo do outro animal, que era chamada de hamr. Durante este processo, a consciência da pessoa permanecia intacta dentro do animal possuído, ao mesmo tempo em que ele conseguia desfrutar de todas as habilidades da criatura. Já no segundo caso, que também encontra exemplo na obra Saga dos Volsungos, redigida no século treze na Islândia, o individuo vestia uma úlfahamr (pele de lobo) e assumia a forma lupina, mas ainda conservava o controle de sua consciência humana. Mais do que o eigi einhamir, no entanto, foi com o berserker que o mundo nórdico deu sua maior contribuição a origem da crença nos lobisomens. Com sua origem derivando tanto de ber-serkr (camisa de urso), pela menção ao tipo de pele vestida pelos guerreiros, quanto de berr-serkr (sem camisa), em alusão ao fato desta classe de viking lutar de peito nu, o berserker dava vazão aos seus instintos violentos visitando as regiões pacíficas da Noruega desafiando pastores e fazendeiros para combate. Caso o desafiado não aceitasse a luta, a lei vigente garantia ao berserker a posse de todos os bens da pessoa, incluindo a esposa, visto que aos olhos da beligerante sociedade da época um covarde não tinha direito a proteção da lei. Mas foi em decorrência de suas investidas no sul do continente europeu que os berserkers alcançaram uma infame notoriedade junto à população católica local, como expressada na fala do religioso que abre este parágrafo, destruindo e matando tudo em seu caminho, não respeitando as construções religiosas, governos ou a idade e sexo de suas vítimas. O que os sobreviventes não levados como escravos reportaram foi o ataque de guerreiros vestidos com peles de ursos e lobos que se comportavam com se estivessem em frenesi (furor bersericus), espumando pela boca, rugindo, ganindo e uivando como as feras cujas peles eles vestiam. Diante do enorme impacto destes ataques sobre a psique das vítimas, a superstição popular pode ter gerado narrativas a partir do comportamento e aparência do berserker que fomentaram a figura do lobisomem. Reforça esta possibilidade o fato de que as regiões litorâneas geralmente atacadas pelos escandinavos e onde hoje se encontram França, Alemanha, Inglaterra, Itália, Portugal e Espanha, são aquelas na quais a lenda do lobisomem mais se desenvolveu. Em Drácula (1897) o conde vampiro alude a esta ligação entre os berserkers e os lobisomens. Outro aspecto da importância do lobisomem do norte europeu para a formação da lenda se faz sentir na origem do termo em inglês werewolf, cujas raízes germânicas se encontram no Inglês Antigo werewulf. Se a segunda parte não apresenta maiores problemas, pela imediata relação com a palavra moderna em inglês wolf (lobo), o primeiro elemento merece considerações. O substantivo anglo-saxônico were decorre de wer (homem), que por sua vez deriva do latim vir (homem), sendo igualmente a base do adjetivo em português “viril”. Wer aparece, de forma disfarçada, como a origem da palavra moderna world (mundo), que em Inglês Antigo significava “a era do homem”.

Na sua forma moderna, o primeiro registro escrito em língua inglesa de werewolf ocorre em Ecclesiastical Ordinances of King Canute (1016-1035), tendo sido usado como sinônimo para descrever criminosos. Outro nome bastante comum ao se falar dos lobisomens é o termo francês loup-garou, no qual aliás se percebe a dupla influência tanto do latim, presente na palavra loup (lobo), derivada de lupus, quanto do anglo-germânico, expressada em garou (homem-lobo). Assim como o werewolf em inglês, garou tem sua raíz no wer anglo-germânico que se tornou war e, posteriomente, gar (homem). Da mesma forma, o ou é o resultado da evolução de ulph (lobo). No entanto, os franceses hoje usam garou para descrever qualquer tipo de transformação humana para animal, como em chien-garou (homem-cachorro). Nos demais países ao sul da Europa, dada a histórica influência do latim na região, a palavra lupus apareceu como o principal componente formador dos termos locais designativos dos lobisomens. Assim, a criatura é conhecida como Lupo-manaro na Itália, lobombre na Espanha e Lobis-homem em Portugal. Neste sentido é importante destacar que nesta mesma região o fenômeno dos homens que se transformavam em animais foi bem documentado por autores clássicos, e na Roma antiga o termo normalmente usado para pessoas que se transformavam em lobos e outros animais selvagens era versipellis (mudar de pele). A primeira relevante menção ao lobisomem na literatura ocidental ocorreu na oitava Écloga (39 a. C.), do poeta romano Virgílio no qual se relata a transformação voluntária de um feiticeiro de nome Moeris em um lobo após este ter consumido certas ervas mágicas (FROST, 2003). A este trabalho se seguiu o Metamorfose, de Ovídio com o episódio envolvendo o rei arcadiano Lycaon e Zeus mencionado anteriormente. Já na prosa o primeiro trabalho a apresentar um lobisomem foi o Satíricon (55 a. D.), do latino Petrônio. Na história de Nicero (relatada na seção conhecida como o Banquete de Trimalchio) o servente de um rico comerciante está passando por um cemitério durante uma noite enluarada quando seu companheiro, um jovem soldado, repentinamente tira as roupas, coloco-as amontoadas e urina sobre elas, se transformando imediatamente em um lobo. Após emitir um uivo que gela o sangue do servente a criatura desaparece na floresta. Posteriormente o servente descobre que ao atacar os animais de uma fazenda próxima um lobo foi ferido. Ao reencontrar o soldado o amigo descobre um ferimento no corpo do jovem no mesmo local em que a fera foi atacada. Apesar de parecer insípido para os padrões de violência do gênero de hoje, este trecho da obra de Petronius tem o mérito de ter introduzido elementos que desde então se tornaram recorrentes em histórias de lobisomens. Mas indubitavelmente foram nos romances de cavalaria da Idade Média que o lobisomem passou de coadjuvante para protagonista.

Uma mudança que tem seu marco inicial dentro da Literatura Inglesa na obra de fins do século XII Canção do lobisomem (Lai du Bisclavret), da francesa Marie de France. A influência do romance de Marie de France para a própria disseminação do lobisomem na literatura inglesa pode ser sentida em duas obras do final do século XIII que fazem parte do ciclo Arthuriano: Lay de Melion e Arthur and Gorlagon. Os dois são praticamente cópias de The Lay of the Bisclaret com a diferença de que no primeiro caso a trama é ambientada na Irlanda e o famoso Rei Arthur é o protetor da fera amaldiçoada. Já na segunda história Gorlagon é o rei que relata a Arthur suas desventuras quando sua esposa o trai levando-o a se transformar em um lobisomem. Situação esta na qual ele permanece por dois anos até conseguir se livrar da maldição e se vingar de seus inimigos. Ainda na Idade Média, destaque também para o romance em Francês Antigo Guillaume de Palerne. Escrito na última década do século XII, William and the Werewolf (como é mais conhecida pelo seu título em inglês desde 1832) foi um dos primeiros trabalhos literários a mostrar um lobisomem benevolente, cuja condição lupina foi resultante de um feitiço lançado sobre o príncipe Alphonse, herdeiro do trono espanhol, pela sua madrasta feiticeira. Apesar desse início promissor, os próximos séculos testemunharam um esvaziamento do interesse pelo tema do lobisomem na literatura europeia. Dois fatores contribuíram para este quadro. Primeiro, o crescimento dos centros urbanos, expressado tanto no aprimoramento da comunicação entre as cidades por meio de novas estradas que evitavam as florestas e, consequentemente, o perigo representado por elas, quanto na melhoria dos sistemas de segurança, com armas mais eficazes contra os animais. O segundo fator, diretamente ligado ao primeiro, se encontra na expressiva redução das alcateias devido a contínua destruição do habitat natural do lobo. Na Bretanha, por exemplo, os lobos foram extintos na Inglaterra em 1530, no País de Gales em 1576 e na Escócia em 1740. A consequência destes dois fatores foi a diminuição do medo reservado a este animal no imaginário europeu. Após o seu início na literatura medieval o tema da criatura meio homem meio lobo só voltaria à tona nas primeiras décadas do século XIX no apagar das luzes da primeira fase do romance Gótico inglês setecentista iniciada por O Castelo de Otranto (The Castle of Otranto) (1764), de Horace Walpole. Publicado em 1824, o último romance de Charles Maturin – Os albigenses (The Albigenses) – reintroduz o personagem do lobisomem na literatura ao mostrar um episodio ambientado na prisão de um castelo francês onde o herói da obra, Sir Paladour, é confrontado com uma entidade sem forma uivando e gritando: “Eu sou um lobo louco… o pelo cresce dentro de mim – a pele de lobo está dentro de mim – o coração de lobo está dentro de mim – as presas de lobo estão dentro de mim!” (FROST, 2003).

O primeiro conto de lobisomem surgiu no fim da segunda década do século XIX com “O lobisomem: uma lenda de Limousin” (“The Wehr Wolf: A Legend of Limousin) (1828), do inglês Richard Thomson. Este conto sobre vingança e magia que descreve os diferentes tipos de lobisomens apresenta elementos que se tornaram recorrentes ao gênero, como a ambientação medieval, a menção da floresta como o lócus do lobisomem e o tema da pata amputada que se transforma em membro humano. Outro ponto a ser comentado sobre este texto é a polêmica da sua data de publicação em relação a outro conto: “O braço cortado; ou O lobisomem de Limousin” (“The Severed Arm; or, The Wehrwolf of Limousin”), publicado anonimamente em Tales of Superstition. Para alguns pesquisadores, “O braço cortado” teria sido publicado em 1820, precedendo, assim, a obra de Thomson em quase uma década como o primeiro conto das “crianças da noite”. No entanto, segundo os sólidos argumentos do crítico Brian Frost em The Essential Guide to Werewolf Literature (2003), publicações como Tales of Superstition eram conhecidas pelas práticas de desrespeito a autoria de obras góticas, criando, por exemplo, outros títulos para as obras copiadas e apresentando essas narrativas “inéditas” como anônimas, evitando desta forma maiores problemas com os autores verdadeiros das obras plagiadas. Por esta razão, especula-se que a data de 1820 atribuída a “O braço cortado” seja apenas uma estratégia usada pelos envolvidos para afastar acusações de plágio por parte de Richard Thomson. Um membro arrancado também tem papel central em outro importante conto para a formação do cânone da literatura de lobisomem pela sua ambientação medieval e a descrição dos marginalizados no período: “Hugues, o lobisomem: uma lenda kent da Idade Média” (“Hugues, the Wer-Wolf: A Kentish Legend of the Middle Ages) (1838), de Sutherland Menzie, pseudônimo da escritora Elizabeth Stone. Aqui, as suspeitas sobre uma família de lobisomens, e o consequente ostracismo dela, leva um dos membros dos Hugues a se aproveitar do medo causado pela fera, levando a acontecimentos insólitos que dão um desfecho inesperado a trama. Antes mesmo da obra de Sutherland Menzie, o nome Hugues já tinha surgido pela primeira vez como protagonista de um conto em “O homem lobo” (“The Man Wolf”) (1831), do escocês Leitch Ritchie e faz referência ao personagem histórico do século XI Hugues e a maldição do lobisomem que, de acordo com a lenda medieval, acometeria a sua ancestral família. O desenvolvimento do mistério que envolve um monge, um cavaleiro e um homem chamado Hugues garante a atenção do leitor. “O lobo branco das montanhas Hartz” (“The White Wolf of the Hartz Mountains”) (1839), do inglês Frederick Marryat também tem seu lugar de destaque por ser ter sido o conto de estreia do lobisomem feminino na literatura, além de ter introduzido o elemento de sedução e atração despertado pela criatura que passou a fazer parte das histórias desde então. Nesta narrativa, parte integrante do romance O navio fantasma (The Phantom Ship), um húngaro se refugia com seus filhos no isolamento do norte da Alemanha e lá acaba se envolvendo com uma bela e misteriosa mulher que desencadeia eventos trágicos para sua família. Desfecho este, de fato, muito semelhante ao reservado aos personagens da novela “O lobisomem” (“The Were-Wolf”) (1896), da inglesa Clemence Housman, em que uma fascinante mulher de origem desconhecida se infiltra em uma pacata residência trazendo a morte de seus habitantes. Ainda entre os lobisomens femininos literários, destacam-se “Olalla” (1885), de Robert Louis Stevenson, “O outro lado” (“The Other Side”) (1893), de Eric Stenbock e “Os olhos da pantera” (“The Eyes of the Panther”) (1898), de Ambrose Bierce. Estando cada vez mais presente na ficção curta de meados do século XIX, não tardaria para o lobisomem aparecer nos romances da época. Essa lacuna foi preenchida em 1847 com a publicação em volume único do folhetim Wagner, o lobisomem (Wagner, the Wehr-Wolf) (1847), do inglês George W. M. Reynolds. Periodizado na revista Reynolds’s Miscellany entre novembro de 1846 e julho de 1847 este folhetim foi um dos mais expressivos representantes dos chamados penny dreadfuls da era vitoriana, ou seja, revistas sensacionalistas e baratas voltadas para o consumo pelo grande público.

Na trama, baseada na lenda alemã do pacto diabólico feito por Fausto e ambientada em vários locais exóticos da Europa renascentista, um velho pastor de noventa anos chamado Fernand Wagner realiza um pacto com o Diabo no qual lhe é garantido a juventude permanente, riqueza inesgotável e aumento da capacidade intelectual. Em troca o Diabo informa que o mortal será transformado em lobisomem uma vez por mês durante a noite de lua cheia (esta foi uma das primeiras histórias a relacionar a transformação do lobisomem com o ciclo lunar). Magia negra e o demônio também são os ingredientes do romance O líder dos lobos (Le Meneur de Loups) (1857), do escritor francês Alexandre Dumas. Ainda que não tenha alcançado nem de longe a notoriedade de outras obras de Dumas como O Conde de Monte-Cristo (1844) e Os três mosqueteiros (1844) a narrativa do pacto feito pelo jovem sapateiro Thibault para controlar lobos visando se vingar de seus inimigos possui seu lugar na tradição da literatura européia. Ainda na França, dois contos merecem menção pela abordagem da transformação lupina de base psicológica, comumente definida como “Licantropia”: “Hugues o lobo” (“Hugues-le-Loup”) (1860), de Erckmann-Chatrian (o nome usado pelos autores franceses Émile Erckmann e Alexandre Chatrian para assinarem suas obras) e “O lobo” (“Le Loup”) (1884), de Guy de Maupassant. Na Inglaterra vitoriana das duas últimas décadas do século XIX a tensão advinda do debate sobre as ideais científicas da época, com destaque para a teoria da evolução de Charles Darwin, as pesquisas do inconsciente que alcançaram seu ponto máximo com Sigmund Freud, e o choque cultural provocado pela expansão do Imperialismo Britânico promoveu um processo de descentramento e ruptura da percepção do homem com relação a ele mesmo e ao seu papel no universo. Situado entre tendências radicalmente opostas como a religião e a ciência, a sexualidade e a repressão e a civilização e a barbárie, o homem vitoriano foi essencialmente, um ser dividido. Neste cenário, o personagem do lobisomem sofre uma mudança de representação, aparecendo na literatura inglesa sob o signo da alteridade, representado em duas formas: na primeira, como um Duplo (Doppelgänger) dentro do próprio homem civilizado e, na segunda, um ‘Outro’ de outra cultura vista pelo olhar imperialista inglês. Dentro dos limites geográficos da Bretanha o quadro de alteridade através da figura do lobisomem encontrou a sua mais perfeita representação em O médico e o monstro (The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde) (1886), do escritor escocês Robert Louis Stevenson. Nas palavras do escritor de terror norte-americano Stephen King é nesta novela que se encontra “o rosto do verdadeiro lobisomem” (KING, 2003) na forma de Mr. Hyde. Dentro desta leitura de King do lobisomem como o lado reprimido do homem vitoriano, o conto “Um horror pastoral” (“A Pastoral Horror”) (1890), de Arthur Conan Doyle relata como um padre acima de qualquer suspeita acaba se revelando o maníaco responsável por trás de horríveis assassinatos cometidos enquanto tomado por frenesis causado pela licantropia. Os efeitos sobre o homem europeu das crenças e culturas estrangeiras enxergadas como exóticas ou atrasadas fornecem a base do conto “A marca da besta” (“The Mark of the Beast”) (1891), do escritor britânico Rudyard Kipling onde se observa a maldição imposta por um sacerdote leproso hindu a um inglês de nome Fleete depois que o europeu fica bêbado e desrespeita o templo Hindu apagando o seu cigarro na imagem de pedra do deus-macaco Hanuman.

Os escritores dos anos iniciais do século XX até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914 seguiram o estilo e a estrutura das histórias desenvolvidas ao longo do século XIX, a verdadeira Era Dourada da literatura de lobisomem. Neste período, três contos ingleses merecem menção: “A coisa imortal” (“The Undying Thing”) (1901), de Barry Pain; “O acampamento do cão” (“The Camp of the Dog”) (1908), de Algernon Blackwood e “Gabriel-Ernest” (1909), de Saki (pseudônimo de H. H. Munro). A chegada da década de vinte trouxe novos rumos para as histórias dos homens-lobo. Se por um lado as narrativas destas criaturas noturnas pareciam ter esgotado suas possibilidades de entreter os leitores pelo desgaste de suas convenções, principalmente na ficção desenvolvida na Europa, por outro estas mesmas convenções forneceram a matéria prima inicial para uma nova abordagem nas emergentes pulp magazines norte-americanas do pós-guerra. Destaque para os contos do norte-americano Robert E. Howard “Na floresta de Villefere” (“In the Forest of Villefere”) (1925), “A cabeça de lobo” (“Wolfshead”) (1926), “A raça perdida” (“The Lost Race”) (1927) e “A hiena” (“The Hyena”) (1928). A década de trinta, ainda marcada fortemente pelo domínio das pulp magazines, testemunhou a publicação do romance considerado pela crítica literária como o equivalente na literatura de lobisomem ao Drácula na literatura de vampiros (FROST, 2003). De fato, lançado em 1933, O lobisomem de Paris (The Werewolf of Paris), do norte-americano Guy de Endore também compartilha com Drácula o fato de se basear nos atos hediondos de um personagem histórico, neste caso específico, os crimes perpetrados pelo sargento francês François Bertrand, que entre os anos de 1848 e 1849 roubou cadáveres do cemitério para lhes devorar a carne putrefata. O vínculo de Bertrand com o lobisomem emergiu durante seu julgamento, quando ele alegou que se transformava em um lobo enquanto perfazia suas atrocidades.

Outras obras de destaque escritas por norte-americanos na primeira metade do século XX foram os romances Mais negro do que você pensa (Darker Than You Think) (1940), de Jack Williamson; O lobo branco (The White Wolf) (1941), de Franklin Gregory; e os contos “O cão” (“The Hound”) (1942), de Fritz Leiber e “Não haverá escuridão” (“There Shall Be No Darkness”) (1950), de James Blish. Após a década de cinquenta e sessenta, quando dividiu a atenção do público não apenas com criaturas que refletiam a ansiedade da Guerra Fria, como monstros mutantes, robôs e alienígenas, mas também com sua própria imagem no cinema, o lobisomem literário voltou a chamar a atenção dos leitores e da crítica literária nos últimos anos do século XX, principalmente quando foi reavaliada pela escrita pós-moderna de escritoras feministas como a inglesa Angela Carter em contos como “A companhia dos lobos” (1979), e “O lobisomem” (1979), ambos sendo releituras do conto de fada “Chapeuzinho vermelho”. No primeiro, a adolescente Chapeuzinho se torna uma vítima voluntária do jogo sedutor da criatura, enquanto que, no segundo, Carter dá a sua explicação para o fato da vovozinha morar sozinha na floresta. Fechando o século XX, destaque para três romances norte-americanos de lobisomens que resgatam a ideia apresentada por Jack Williamson em Mais negro do que você pensa em que os lobisomens são uma espécie inteligente que vive de forma secreta entre nós: Um grito de horror (The Howling) (1977), de Gary Branner, Os lobos (The Wolfen) (1978), de Whitley Strieber e Sangue & chocolate (Blood and Chocolate) (1997), de Annette Curtis Klause. A imensa receptividade pelo público leitor, principalmente adolescente, dos vampiros da série Crepúsculo (2005-2008) produziu um forte impacto na literatura de lobisomens no início do século XXI. Respondendo a demanda do mercado pelo “amor sobrenatural”, Os lobos de Mercy Falls (The Wolves of Mercy Falls) (2009-2011), de Maggie Stiefvater; (Sob a luz da lua) Nightshade (2011-2012), de Andrea Cremer e (Guardião negro) (Dark Guardian) (2009-2010), de Rachel Hawthorne, dentre tantas outras, apresentam como ponto em comum sociedades secretas de lobisomens nas quais um dos membros acaba se envolvendo emocionalmente com humanos. Ainda dentro do universo adolescente, o lobisomem marcou presença nos dois lados da batalha entre o bem e o mal dentro da série Harry Potter (1997-2007), da inglesa J. K. Rowling através do bondoso professor Remo Lupin (uma clara analogia tanto ao fundador do império romano quanto termo em latim para “lobo”) e do perverso Fenrir Grayback (sendo o primeiro nome associado ao mítico lobo dos nórdicos).

Em língua portuguesa o lobisomem aparece em Tradições populares de Portugal (1882), de J. Leite de Vasconcellos onde esse personagem ocupa a maior parte do capítulo do livro dedicado aos seres sobrenaturais do país, aparecendo na literatura portuguesa desde o século XV no Cancioneiro de Garcia de Resende: “Sois damnado lobishomem / Primo d’Isaac nafu”. Dois séculos depois, no Vocabulário (1716), de D. Raphael Bluteau ele reaparece nos versos do século XVI de Francisco de Sá de Miranda: “Bento, maos lobos são homens / E mais os d’essas montanhas, / Que há cem mil lobishomens; / Cuidava eu que erão patranhas.” No entanto, fora alguns casos registrados na literatura de cordel nordestina e uma breve participação como um dos seres da mata avistados pelo menino Pedrinho na obra O saci (1921), de Monteiro Lobato, apenas em meados da década de quarenta surgiu um dos primeiros representantes do lobisomem literário brasileiro com o saboroso conto “O lobisomem” (1944), do cearense Raimundo Magalhães em que todas as convenções relacionadas ao homem-besta aparecem no causo contado pelo personagem com fama de mentiroso. Depois dessa estreia, o ser folclórico voltaria às letras brasileiras vinte anos depois em O coronel e o lobisomem (1964), do carioca José Cândido de Carvalho. Considerado pelo gaúcho Érico Veríssimo como um dos melhores romances da literatura brasileira de todos os tempos, o livro de Carvalho foca nos causos e aventuras relatados pelo coronel Ponciano de Azeredo Furtado na cidade fluminense de Campos dos Goytacazes. Onças e sereias surgem nas histórias do personagem que alcançam seu ponto maior no embate com o lobisomem. Desde os primeiros anos do século XX e um novos escritores brasileiros, com destaque para os escritores Ademir Pascale, organizador de Metamorfose: a fúria dos lobisomens (2009) e Clecius Alexandre Duran com os romances da série Crônicas da Lua Cheia (2016) vem trabalhando com o lobisomem dentro do fantástico nacional.

REFERÊNCIAS

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KING, Stephen. Dança macabra: o fenômeno do horror no cinema, na literatura e na televisão dissecado pelo mestre do gênero. Tradução de Louisa Ibañez. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2003.
MATURIN, Charles. The Albigenses: A Romance. New York: Arno Press, 1974.
MOOSBURGER, Théo de Borba. SAGA dos volsungos. Tradução de Théo de Borba Moosburger. São Paulo: Hedra, 2009.
STEVENSON, Robert Louis. O médico e o monstro. Tradução de Bráulio Tavares. São Paulo: Editora Hedra, 2012.
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VASCONCELLOS, J. Leite de. Tradições populares de Portugal. Porto, Portugal: Livraria Portuense de Clavel e Cia, 1882.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BELLEI, Sergio Luiz Prado. Definindo o monstruoso: forma e função histórica. In: BELLEI, Sergio Luiz Prado. Monstros, índios e canibais: ensaios de crítica literária e cultural. Florianópolis: Editora Insular, p. 11-22, 2000.
CARTER, Angela. O quarto do barba-azul. Tradução de Carlos Nougué . Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
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GLOSECKI, Stephen O (2002). Wolf [Canis lupus] and Werewolf. In: LINDAHL, Carl; MCNAMARA, John; LINDOW, John (Eds). Medieval Folkore: A guide to myths, legends, tales, beliefs, and customs. New York: Oxford University Press, p. 440-442, 2002.
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SHARKEY, John. Mistérios celtas. Tradução de Cari Baena. Rio de Janeiro: Edições Del Prado, 1997.
SILVA, Alexander Meireles. Literatura inglesa para brasileiros: curso completo de literatura e cultura inglesa para estudantes brasileiros. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2005.
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