CARL WILHELM GRIMM – ficcionista

Sylvia Maria Trusen

GRIMM, Carl Wilhelm, irmão mais novo de Jacob Ludwig Carl Grimm, nasceu em 24 de fevereiro de 1786, na cidadezinha alemã de Hannau, situada no norte do estado de Hesse, região central da Alemanha. Faleceu em 1859, em Berlim. Foi o segundo filho nascido do casamento de Dorothea com o funcionário e jurista Philipp Wilhem Grimm (EWERS, 1984).

Após os primeiros anos passados em Hannau, a família mudou-se para a cidade de Steinau, onde Wilhelm e Jacob Grimm passaram os primeiros anos, até o falecimento do pai, cinco anos depois (1798). Com as dificuldades financeiras decorrentes da morte do progenitor, Wilhelm e seu irmão são enviados para a residência da tia Henriette Philippe Zimmer, condessa residente em Cassel, que passou a custear os estudos dos irmãos, no Liceu desta cidade. Poucos anos após, Wilhelm, seguindo os passos do irmão mais velho, iniciou em 1803, o estudo da Faculdade de Direito na Universidade de Marburg, também visitando, como o irmão Jacob, as aulas do professor e pesquisador de História do Direito Medieval, Carl von Savigny. Este episódio constituiu momento importante na vida e obra deixada pelos irmãos Grimm, uma vez que o intenso interesse por canções trovadorescas e método de pesquisa empregado por Savigny influenciou o trabalho dos irmãos na elaboração da obra que celebrizou o nome Wilhelm e Jacob Ludwig Carl Grimm (RÖLLEKE, 1985).

No ano de 1808, a mãe faleceu, e Jacob Grimm, como irmão mais velho, passou a assumir a responsabilidade de gerir financeiramente a família. Wilhelm Grimm adoeceu, o que o impediu de assumir o posto de bibliotecário, como seu irmão, Jacob, na corte de Jerôme Bonaparte, em Cassel. No ano seguinte, em 1809, Wilhelm Grimm partiu para tratamento, em Halle, e, após relativa melhora, viajou com Achim von Arnim e Clemens Brentano para Berlim. Também neste ano, em Weimar, visitou a Johann Wolfgang von Goethe. Esta rede de relações estabelecida com poetas, escritores, pesquisadores da cultura alemã foi crucial para a conformação e publicação do primeiro volume da obra Kinder-und Hausmärchen (Contos maravilhosos para a infância e para o lar), em 1812, obra que marcou definitivamente o nome dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm no âmbito da recolha e adaptação dos contos maravilhosos (ou contos de fadas) para o público infantil. Wilhelm Grimm assumiu, a partir da segunda edição (PETER, 1988, TRUSEN, 2005), a tarefa de estilizar a obra, adaptando-a ao gosto de sua época, e ao horizonte de expectativa de seu principal público leitor, a infância e a família. Contudo, o trabalho de parceria com seu irmão mais velho Jacob Ludwig Carl Grimm se manteve, e, em 1816, ambos publicaram o primeiro de dois volumes de Lendas germânicas (Deutsche Sagen).

Oito anos depois, em 1825, foi celebrado o matrimonio com Dorothea Wild, filha de um farmacêutico, e importante narradora da coletânea alemã de contos maravilhosos, mencionada acima. Jacob Grimm, permanecendo solteiro, passou a viver desde então em um anexo da casa, com Wilhelm e Dorothea.

Em 1829, transferiu-se para a cidade de Göttingem, dirigindo a partir do ano seguinte a Biblioteca desta cidade universitária, ao lado do irmão Jacob. Alguns anos depois, em 1835, Wilhelm foi efetivado para o cargo de docente nesta Universidade. O ano seguinte, 1837, trouxe uma reviravolta para o e engajamento político e intelectual dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, quando a constituição do estado foi suspensa pelo monarca Ernst August, provocando uma revolta entre sete importantes docentes da instituição, designados os Sete Göttinger (Göttinger Sieben), dentre eles, seu irmão mais velho, Jacob Grimm, que foi exilado. Como punição, Wilhelm Grimm perdeu o posto, juntamente com os outros seis professores, transferindo-se com sua família para Cassel.

Em 1838, a casa editora Weidmannschen, em Leipzig, convidou Wilhelm e Jacob Grimm para dirigirem o projeto do primeiro Dicionário da Língua Alemã (Deutschen Wörterbuchs). Esta foi a tarefa a qual ambos os irmãos se dedicaram ao longo de suas vidas. (EWERS, 1984).

Dois anos após, em 1840, o rei da Prússia, Friedrich Wilhelm IV, designou os Grimm membros da Academia da Ciência, em Berlim, e, consequentemente, em 1841, eles se transferiram para aquela cidade. Em 1852, foi publicado o Sobre a história do Reno, de Wilhelm Grimm, mesmo ano em que seu autor abandonou a docência. Cinco anos depois (1857) foi publicada a sétima e última versão em vida da obra que tornou os irmãos internacionalmente conhecidos, o Kinder-und Hausmärchen (Contos maravilhosos para a infância e para o lar). Wilhelm Grimm faleceu em Berlim, em 1859.

Embora Wilhelm Grimm tenha escrito obra diversificada, de modo geral, como no caso de seu irmão Jacob, ela é demarcada pelo projeto de dar testemunho da pretensa unidade que congregaria os povos falantes da língua alemã e seus dialetos, distribuídos em diferentes reinos do Sacro Império Romano-Germano, conformação esta que seria reorganizada em uma união de vários estados (Deutscher Bund), após a queda de Napoleão Bonaparte. Sua obra, nesse sentido, foi escrita sob a égide do Círculo de Heidelberg (Jacob Ludwig Carl Grimm) e integra o interesse comum de reunir expressões genuínas do Nationalgeist (espírito nacional), característico da segunda fase do romantismo alemão (PETER, 1988), fortemente influenciado pelo pensamento de Herder. (MOSER, 1989)

Contudo, seu nome tornou-se célebre, sobretudo, a partir da publicação da obra Kinder-und Hausmärchen (Contos maravilhosos para a infância e para o lar), cuja fama deve-se em grande parte ao empenho de Wilhelm de estilizar, filtrar e adaptar as narrativas em circulação aos ideais da família burguesa de sua época.

REFERÊNCIAS

EWERS, Heins-Heino (Org). Kinder-und Jugendliteratur der Romantik. Stuttgart: Reclam, 1984.
MOSER, Hugo. Sage und Märchen in der deutschen Romantik. In: Vários autores. Die deutsche Romantik: Poetik, Formen und Motive. 4. ed. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1989.
PETER, Klaus. Romantik. In: BAHR, Ehrhard (Org). Geschichte der deutschen Literatur, 2, von der Auflärung bis zum Vormärz. Tübingen: Francke, p. 327-410, 1988.
RÖLLEKE, Heinz. Die Märchen der Brüder Grimm. München: Artemis, 1985.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

HEISE, Eloá; RÖHL, Ruth. História da literatura alemã. São Paulo: Ática, 1986.
STEFFEN, Hans. Die deutsche Romantik: Poetik, Formen und Motive. 4.ed. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1989.
Do veto à alteridade: nas sendas do conto dos Grimm. Brathair. Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 65-72. 2005.
TRUSEN, Sylvia Maria. Do enredo de um nome: Märchen, Maere, Maerlîn. Fronteiraz. São Paulo, v. 3, n. 3, p. 1-9. 2009.
TRUSEN, Sylvia Maria. Do maravilhoso à literatura infantil: deslocamentos de um gênero. Revista Olho d’água, Revista do Programa de Pós-Graduação da UNESP. São José do Rio Preto, v. 4, n.1, p. 87-96. 2012.
VOLOBUEF, Karin. Os Irmãos Grimm e as raízes míticas dos contos de fadas. In: VOLOBUEF, Karin; ALVAREZ, Roxana Guadalupe Herrera;  WIMMER, Norma (Orgs). Dimensões do fantástico, mítico e maravilhoso. FCL-UNESP. São Paulo: Cultura Acadêmica, p. 47-62, 2011.