BURNING YOUR BOATS: COLLECTED SHORT STORIES, literatura – Angela Carter

Cleide Antonia Rapucci

Essa coletânea, publicada postumamente em 1996, reúne os quatro livros de contos de Angela Carter: Fireworks: Nine Profane Pieces (1974), The Bloody Chamber and Other Stories (1979), Black Venus (1985) e American Ghosts & Old World Wonders (1993, publicação póstuma).

Foram incluídos alguns de seus primeiros contos, da fase 1962-1966: “The man who loved a double bass”, A very, very great lady and her son at home” e “A Victorian Fable (with glossary)”, bem como contos do periodo 1970-1981 que não haviam entrado em suas coletâneas: “The snow pavilion” (conto inedito), “The quilt maker” e “The scarlet house”.

A introdução, escrita por Salman Rushdie, traz alguns comentários sobre os contos iniciais, em que Rushdie assinala que o melhor de Angela Carter está em seus contos. Ele vê nos contos iniciais como “A very, very great lady and her son at home” os motivos carterianos como o amor pelo gótico, a linguagem exuberante e a mistura de alta e baixa cultura (RUSHDIE, p. x).

Fireworks: Nine Profane Pieces, de 1974, reúne contos escritos entre 1970 e 1973: “A Souvenir of Japan”, “The Executioner’s Beautiful Daughter”, “The Loves of Lady Purple”, “The Smile of Winter”, “Penetrating to the Heart of the Forest”, “Flesh and the Mirror”, “Master”, “Reflections” e “Elegy for a Freelance”. Estão aqui os contos que poderíamos chamar de “a trilogia do Japão” (“A Souvenir of Japan”, “The smile of Winter”, “Flesh and the Mirror”), narrativas em primeira pessoa que trazem uma voz feminina em busca de sua identidade. O destaque da coletânea é o conto “The Loves of Lady Purple”, a história de um manipulador de marionetes e de sua marionete favorita, Lady Purple, para quem ele cria toda uma história de um passado de mulher fatal. Ela teria sido transformada em marionete devido a essa história de devassidão, como castigo. Essa é a história que o manipulador conta nas apresentações. No final, Lady Purple se rebela, transformando-se na mulher que ele dizia que ela havia sido. Rushdie define o conto como uma“reescrita feminina, sexy e letal de Pinóquio” (RUSHDIE, p. xi). Outros contos que lidam com o insólito nessa coletânea são “Master” e “Penetrating to the heart of the Forest”.

O propósito de Angela Carter com The Bloody Chamber and Other Stories foi, segundo ela própria, “extrair o conteúdo latente das histórias tradicionais” (HAFFENDEN, p. 84). Nesta coletânea, a autora faz um revisionismo feminista de mitos e contos de fadas: o Barba Azul, a Bela e a Fera, o Gato de Botas, o Rei dos Elfos, Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, uma vampira solitária, a Bela Adormecida. Em 1984, Angela Carter escreveu com Neil Jordan o roteiro do celebrado filme “A companhia dos lobos”, baseado principalmente no conto do mesmo nome. Os contos dessa coletânea são: “The Bloody Chamber”, “The Courtship of Mr Lyon”, “The Tiger´s Bride”, “Puss-in-Boots”, “The Erl-King”, “The Snow Child”, “The Lady of the House of Love”, “The Werewolf”, The Company of Wolves” e “Wolf-Alice”.

Black Venus reúne contos que haviam sido publicados separadamente entre 1977 e 1982. Nos Estados Unidos, foi publicada com o título de Saints and Strangers (1985). A coletânea reúne os seguintes contos: “Black Venus”, “The Kiss”, “Our Lady of the Massacre”, “The Cabinet of Allan Poe”, “Overture And Incidental Music for A Midsummer Night´s Dream”, “Peter and the Wolf”, “The Kitchen Child” e “The Fall River Axe Murders”. Rushdie destaca que nesses contos Carter mostra seu interesse na criação de retratos (RUSHDIE, p. xiii). Assim, o revisionismo carteriano traz aqui figuras como Jeanne Duval (a amante de Baudelaire), Edgar Allan Poe e Lizzie Borden.

American Ghosts & Old World Wonders, lançado postumamente em 1993, reúne os contos “Lizzie’s Tiger”, “John Ford’s Tis Pity she’s a whore”, “Gun for the devil” e “The Merchant of shadows”, “The ghost ships”, “In Pantoland”, “Ashputtle or The Mother’s Ghost”, “Alice in Prague or The curious room” e “Impressions: The Wrightsman Magdalene”. São histórias sobre lendas, mitos e maravilhas. (CLAPP, 1994, p. ix)

Salman Rushdie termina a introdução a Burning your Boats lamentando a morte precoce de Angela Carter: “ela ainda não havia terminado”, “ela morreu no auge de suas forças”, “no meio da frase, por assim dizer” (RUSHDIE, p. xiv). O escritor e crítico termina afirmando que “os contos nesse volume são a medida da nossa perda(RUSHDIE, p. xiv).

REFERÊNCIAS

CLAPP, S. Introduction. In: Carter, A. American ghosts &old world wonders. London: Vintage, p. ix-xi. 1994.
HAFFENDEN, J. Angela Carter. In: Novelists in Interview. London: Methuen, p. 76-96. 1985.
RUSHDIE, S. Introduction. In: CARTER, A. Burning your Boats: Collected Short Stories. London: Vintage, p. ix-xiv. 1996.