ANGELA CARTER’S BOOK OF FAIRY TALES, literatura – Angela Carter

Cleide Antonia Rapucci

A coletânea Angela Carter´s Book of Fairy Tales (2005) reúne postumamente as duas coletâneas de contos de fadas e contos folclóricos editadas por Carter, The Virago Book of Fairy Tales (1990) e The Second Virago Book of Fairy Tales (1992), ambos ilustrados por Corinna Sargood. O livro foi publicado no Brasil em 2007 pela Companhia das Letras, como 103 contos de fadas. A edição brasileira traz na capa o rótulo “para adultos” que Carter tanto abominava: “uma seleção mundial de histórias para adultos brutais e divertidas” Observer.

Creio que o selo com a frase do Observer tenha sido colocado na edição brasileira para evitar surpresas de público. O primeiro texto “Sermerssuaq” (inuíte) apresenta, em uma página, uma mulher que tinha tanta força que conseguia levantar um caiaque com três dedos, vencia a maioria dos homens e lhes perguntava onde estavam “quando fizeram a distribuição de testículos” e tinha um clitóris “tão grande que a pele de uma raposa não podia cobri-lo por completo” (CARTER, p. 27). A tradução é de Luciano Vieira Machado.

A “Nota da edição inglesa”, escrita pela editora da Virago Lennie Goodings, explica que Angela Carter´s Book of Fairy Tales reproduz a introdução que Angela Carter escreveu para The Virago Book of Fairy Tales. A introdução de Marina Warner a The Second Virago Book of Fairy Tales consta como posfácio em Angela Carter´s Book of Fairy Tales.

Na introdução, Carter faz um estudo sobre os contos de fadas e contos populares, enfatizando seu caráter de transmissão oral e de ser o divertimento dos pobres. Fala sobre a convenção europeia de uma contadora de histórias arquetípica, a “Mamãe Gansa”, que inventou “histórias de velhas comadres”. Trata-se de “uma coletânea de ‘histórias de velhas comadres’, reunidas com a intenção de proporcionar prazer e também com uma boa dose de prazer da minha parte” (CARTER, p. 17).

Carter reúne aqui histórias que vêm “da Europa, da Escandinávia, do Caribe, dos Estados Unidos, do polo Norte, da África, do Oriente Médio e da Ásia”, conforme ela mesma demarca (p. 18). Embora tenha coletado histórias de mulheres, Carter declara que não reuniu esses contos para mostrar que no fundo somos todas irmãs; ao contrário, afirma que quis demonstrar a extraordinária riqueza e diversidade de reações ao mesmo dilema do estar viva e a riqueza e diversidade com que a feminilidade é representada, na prática, pela cultura “não-oficial”: suas estratégias, suas tramas, seu trabalho árduo (p. 18).

As histórias ficaram assim reunidas: Parte 1. “Corajosas, ousadas e obstinadas”; Parte 2. “Mulheres espertas, jovens astuciosas e estratagemas desesperados”; Parte 3. “Tolos”; Parte 4. “Boas moças e o que acontece com elas”; Parte 5. “Feiticeiras”; Parte 6. “Famílias infelizes”; Parte 7. “Fábulas morais”; Parte 8. “Mentes fortes e artimanhas”; Parte 9. “Maquinações: feitiçarias e trapaças”; Parte 10. “Gente bonita”; Parte 11. “Mães e filhas”; Parte 12. “Mulheres casadas”; Parte 13. “Histórias úteis”.

Conforme ressalta Marina Warner no posfácio, as histórias aqui reunidas têm poucas fadas no sentido próprio, mas se passam no reino das fadas, “não no reino embelezado, kitsch e vitoriano dos elfos, e sim no reino mais sombrio e onírico de espíritos e artimanhas, animais encantados e falantes, enigmas e encantos” (WARNER, p. 450).

REFERÊNCIAS

CARTER, Angela. 103 contos de fadas. Tradução Luciano Vieira Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
WARNER, Marina. Posfácio. In: CARTER, Angela. 103 contos de fadas. Tradução de Luciano Vieira Machado. São Paulo: Companhia das Letras. p. 449-457. 2007.